O papel crucial do triângulo
EUA/Rússia/China na política global
06 de
junho de 2020 – texto de Vladimir Danilov – tradução de btpsilveira
Mesmo antes que o atual presidente
Donald Trump assumisse o poder nos EUA, ele já falava sobre o equilíbrio do poder
dentro do triângulo EUA, Rússia e China, assunto vital para Washington. Na
época, já fazia promessas de lançar uma guerra comercial contra a China e
buscar o consenso com a Rússia.
Como já relatado corretamente pelo
jornal francês La Tribune (em francês) a
expansão das capacidades militares da China liderada por Xi Jinping, no poder
desde 2013, aliada ao “despertar estratégico” da Rússia com Putin, são eventos
determinantes na última década. Marcaram o fim da dominação global pelo
ocidente, surgindo o conceito de déficit ocidental (westlessness, no original em inglês – NT) exaustivamente discutido
na conferência de Munique em fevereiro de 2020. Além disso, a diplomacia
unilateral do presidente Trump acelerou a crise transatlântica, agravada ainda
pelo comportamento do presidente turco Erdogan, que mesmo sendo na teoria um
aliado do ocidente e parte da OTAN, representa a parceria estratégica ativa da
Rússia dentro de sua esfera de poder. Já é bem significativa a erosão da noção
de autoridade ocidental em 2020, a ponto de ser vista atualmente como sem valor
estratégico.
Dadas estas condições, o triângulo
estratégico EUA/Rússia/China dominará a cena geoestratégica na próxima década.
Como muitos analistas ocidentais também ressaltam, com as tentativas dos
Estados Unidos de permanecer como potência dominante, diminuirá a vontade de
intervir em assuntos globais, dado que sucessos militares rápidos são raros, e
fica cada vez mais difícil garantir a segurança de seus aliados. A China
continuará a pressionar para ultrapassar os EUA não apenas no campo militar,
mas também como influenciador da cena internacional. Que não se espere, da
mesma forma, que a Rússia fique inerte enquanto os EUA tentam caracterizá-la
como jogador de segunda classe na década atual. O crescimento da autoridade
política e do potencial militar em anos recentes deu ao país oportunidades
consideráveis de atrapalhar os Estados Unidos, o que proporcionará por muito
tempo para a Rússia papel vital nas relações internacionais.
Acrescente-se a parceria estratégica
cada vez mais forte entre China e Rússia, que significa problemas sempre
crescentes para Washington. Como o escritor político (norte)americano Newt
Gingrich ressaltou na emissora Fox News, a China, que já representa um desafio sério aos EUA, ficará dia a dia
mais poderosa se aliada com a Rússia. Uma disputa militar entre China e Estados
Unidos deverá ser vencida pelos EUA, mas a situação se inverte em caso de um
conflito entre a aliança China/Rússia versus Estados Unidos. A crescente
aliança China/Rússia “complica muito o núcleo do planejamento de nossa
segurança nacional e estratégia militar”, resume Gingrich.
Em anos recentes, a autoridade
internacional dos Estados Unidos sofreu um declínio significativo, devido à
imprevisibilidade das políticas da atual administração e ao descumprimento por
Washington de múltiplos acordos internacionais. O potencial dos EUA tem sido
avaliado comumente pelo poderio militar, mas o exército do país está saindo atualmente
não só do Oriente Médio como de outras regiões do planeta. Hoje, o exército dos
Estados Unidos de maneira nenhuma conseguiria levar a guerra a mais de uma das
potências mundiais ao mesmo tempo, enquanto oponentes como China e Rússia se
tornaram militarmente mais fortes, de acordo com estimativas do Índice de
Poderio Militar (norte)americano de 2020. De acordo com este relatório de 500
páginas publicado pela Fundação Heritage, todos os quatro tipos de forças
militares dos Estados Unidos bem como seu arsenal nuclear estão no limite
devido a fatores como pessoal e equipamento.
Assim, Washington optou por dar
importância particular à pesquisa por soluções mais vantajosas para o problema
do assim chamado “triângulo mundial”. Pouco antes de sua morte, o mestre máximo
do pensamento estratégico (norte)americano, Zbigniew Brzezinski foi forçado a
admitir a falha do conceito inicial de seu livro de 1997, “O Grande Tabuleiro
de Xadrez”, de que a Nova Ordem Mundial
seria construída “às custas da Rússia, sobre as ruínas da Rússia e contra a
Rússia”. A nova realidade forçou Brzezinski a modificar substancialmente seu
conceito em seu artigo final, ( em inglês) antes
de sua morte, escrito no final de 2017 já à vista das ruínas do mundo unipolar,
e na iminência do fracasso do liberalismo ocidental. Na realidade, em seu
artigo ele previu a emergência de um triângulo relacional entre Pequim,
Washington e Moscou na arena política mundial.
O veterano diplomata (norte)americano
Henri Kissinger, fala do novo alinhamento político mundial em artigo (em inglês) intitulado
“A Pandemia do Coronavírus Modificará para Sempre a Ordem Mundial”, onde
reconhece que o mundo não será o mesmo depois da pandemia da COVID-19. No lugar
dos objetivos de desescalada que foram prioritários durante a Guerra Fria, o
principal objetivo será o estabelecimento de uma Nova Ordem Mundial. Ele propõe
olhar para os acontecimentos através do prisma do interesse comum do triunvirato
que emergirá: Trump, Xi Jinping da China e o russo Putin.
O fato de que depois que a pandemia
acabar, a ordem mundial terá que ser refeita também é mencionado no jornal South China Morning
Post. Isso será feito, na
opinião do jornal, por três potências que liderarão o mundo: Rússia, China e os
Estados Unidos, que necessitarão de sobrepujar suas diferenças, que não é um
objetivo impossível de alcançar.
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