Os EUA querem uma
guerra naval contra a China?
Texto de Patrick J. Buchanan – trad.
btpsilveira
Será que alguém em Washington
pensa que os chineses vão desistir de suas reivindicações e entregar todo o Mar
do Sul da China ou deixar de reafirmar suas pretensões só porque os Estados
Unidos as rejeitam?
Estarão os Estados Unidos,
preocupados com uma pandemia e a depressão que sua crise sanitária criou,
preparados para um choque com a China por causa das reivindicações de Pequim de
algumas rochas, recifes e recursos do Mar do Sul da China? Porque parece que é isso que Mike Pompeo andou
ameaçando nesta semana.
“O mundo não permitirá que
Pequim ameaçe o Mar do Sul da China como se fosse o seu império marítimo”
trovejou o secretário de estado.
“Os Estados Unidos se perfilarão
ao lado de seus aliados e parceiros asiáticos, para proteger seus direitos de
soberania aos recursos offshore... rejeitamos qualquer pressão para impor a
máxima “o poder é o direito” no Mar do Sul da China”.
Assim, Mike deixou Pequim alertada
de que os Estados Unidos não reconhece suas reivindicações de 90% do Mar do Sul
da China ou o direito exclusivo dos chineses de campos de pesca ou recursos em
gás ou petróleo.
Em vez disso, numa mudança de
política, os Estados Unidos agora reconhecem as pretensões de rivais da China
na questão, como Vietnã, Malásia, Indonésia, Brunei e as Filipinas.
Para demonstrar a seriedade da
posição de Pompeo, os EUA enviaram os grupos de porta aviões liderados pelos
navios USS Ronald Reagan e USS Nimitz para navegar através do Mar do Sul da
China e nesta semana o contratorpedeiro USS Ralph Johnson, com mísseis guiados,
passou perto das Ilhas Spratly.
Mas o que significam realmente
essas palavras duras de Mike Pompeo?
Será que Pompeo está afirmando
que, com o reconhecimento pelos EUA das pretensões dessas cinco nações
litorâneas do Mar do Sul da China, o país está pronto para usar seus recursos
militares para defender essas pretensões, caso a China use seu poder naval
contra os navios desses cinco países?
Por acaso isso significa que se
Manila, único aliado dos EUA nessa disputa, use sua força para reclamar o que
vê como seus direitos no Mar do Sul da China, a Marinha dos Estados Unidos
lutará contra a Marinha Chinesa para assegurar as reclamações de Manila?
Pompeo riscou uma linha
vermelha no mar, afirmando que a China não pode cruzá-la sob risco de uma
guerra contra os Estados Unidos?
Se for isso, será o Benedito
que alguém em Washington pensa que os chineses vão desistir de suas
reivindicações e entregar todo o Mar do Sul da China ou deixar de reafirmar
suas pretensões só porque os Estados Unidos as rejeitam?
Lembre-se do que aconteceu com
o povo de Hong Kong, que pensava que eles teriam a “maior democracia do mundo” correndo
em seu apoio.
Por um ano eles marcharam e
protestaram por maior liberdade política, com a qual eles achavam que poderiam
conquistar a independência.
Mas quando Pequim decidiu que
bastava, elaboraram e aprovaram uma lei básica sob a qual Hong Kong volta
definitivamente para a esfera da China e a repressão começou.
As democracias protestaram e
impuseram sanções econômicas. Mas o resumo da questão é que o povo de Hong Kong
não só fracassou na tentativa de conseguir mais liberdade que queriam, como
perderam um pouco da que já tinham.
Vendo Hong Kong sendo absorvida
pela China, os Estados Unidos estão agora cancelando os privilégios econômicos
especiais que tinham acordado com a cidade, enquanto os britânicos estão
oferecendo milhões de visas para os dissidentes que temem que a China agora
venha atrás deles.
No mês de junho, Pompeo já
tinha acusado Pequim quanto às atrocidades contra direitos humanos em Xinjiang:
“o mundo recebeu relatos perturbadores de que o Partido Comunista Chinês
estaria realizando esterilização forçada, imposição de aborto e planejamento
familiar coercivo contra Uigures e outras minorias em Xinjiang, como parte de
uma campanha contínua de repressão”.
Segundo Pompeo esses relatos “são
tristemente consistentes com décadas de práticas do PCC, que demonstram um
enorme desprezo pela santidade e dignidade básicas da vida humana”.
A China rejeitou os protestos
dos EUA contra seu tratamento de uigures e cazaques e pela forma com a qual
lidou com Hong Kong como interferências em seus assuntos internos com os quais
os Estados Unidos nada tem a ver.
Já em relação ao Mar do Sul da
China, o país asiático foi irônico, replicando que “parece que os Estados
Unidos estão lançando seu peso militar em todos os mares do mundo”.
Tanto as ameaças de Washington
quanto as respostas de Pequim nos levam de volta para os dias sombrios da
Guerra Fria.
Portanto, mais uma vez: os
Estados Unidos estão prontos para um conflito naval no Mar do Sul da China,
caso Pequim continue a ocupar e fortificar ilhotas e recifes que reclama como
de sua propriedade? Estão preparados para uma Guerra Fria 2.0, desta vez contra
a China?
Embora a China não tenha o
arsenal estratégico que a União Soviética tinha no tempo da Guerra Fria,
econômica, tecnológica e industrialmente a China é um poder muito maior do que
a URSS jamais foi. Além disso, a população da China é cinco vezes maior.
Podem/devem, os EUA iniciar a
montagem de um complexo de alianças parecido com o que tinha durante a Guerra
Fria – com a OTAN na Europa e assegurando pactos com os países asiáticos, como
Japão, Coreia do Sul, Filipinas, Taiwan, Austrália e Nova Zelândia? Devem
adotar uma política de contenção da China Comunista, a qual, diz Pompeo, é uma
potência expansionista e “imperialista”?
Teremos que assegurar garantias
de guerra com os vizinhos da China? Devemos mesmo traçar linhas vermelhas que a
China não poderá cruzar?
Antes de mergulhar em meia
dúzia de guerras no Oriente Médio os Estados Unidos da América não pensaram
para onde isso os poderia levar. Não deveriam pensar com cuidado para onde
certamente nos levará toda essa belicosidade contra Pequim e qual será o fim
disso tudo?
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