Trump vs US IntelligencePresidente Trump X Agências de Inteligência dos EUA

por Matthew Jamison, tradução de btpsilveira
12 de janeiro de 2016

Se as últimas eleições para a presidência dos Estados Unidos já não fossem uma das mais extraordinárias e dramáticas vistas na história política moderna, a competição entre Hillary Clinton e Donald Trump continua a se mostrar cada vez mais surreal, mesmo quando se leva em conta que a votação ocorreu já há mais de dois meses.

A última reviravolta nessa história já épica de política teatral que os estudantes de política terão que analisar por gerações a seguir, vê o presidente que deverá tomar posse enredado em um dos mais incríveis planos conspiratórios de mudança de poder, apenas duas semanas antes de assumir o gabinete, em conflito aberto contra as próprias agências de inteligência que poderão acusá-lo em breve de uma série de malfeitos.
Mesmo deixando de lado as acusações que fazem a CIA, o FBI e o diretor da inteligência nacional dos Estados Unidos, de que o presidente russo Vladimir Putin teria ordenado pessoalmente um ataque cibernético para distorcer as eleições em favor de Trump, o que tem sido cada vez mais extraordinário é que o presidente eleito rejeita abertamente as afirmações da comunidade e de inteligência dos Estados Unidos de que teria havido ataques de “hacking”. A sua equipe e ele mesmo demonstram ceticismo e denigrem claramente os serviços inteligência (norte)americana.
Donald Trump desafiou vários precedentes políticos e diplomáticos durante sua caminhada vitoriosa tanto para a indicação pelo Partido Republicano quanto para a própria presidência. Ele destruiu, de várias maneiras, quase todas as regras e os tabus que existiam até então. Onde candidatos convencionais demonstram medo, Trump age sem qualquer inibição. Esta é a situação nas vésperas de Trump assumir o poder geral sobre a comunidade de inteligência dos Estados Unidos. Ver um presidente próximo a assumir o poder engajado em uma guerra de palavras com espiões (norte)americanos não é comum.
De acordo com a CIA, o FBI, o gabinete do Diretor Nacional da Inteligência dos EUA e o atual presidente Barak Obama, o governo da Rússia esteve engajado em uma campanha de ataques cibernéticos durante as eleições presidenciais dos EUA com a intenção aberta de aumentar as chances de vitória de Trump e desacreditar sua adversária do Partido Democrata, Hillary Clinton.
Várias agências de inteligência dos Estados Unidos acusam o Kremlin de elaborar um plano de hackear contas de email do Comitê Nacional do Partido Democrata e altos auxiliares de campanha de Clinton, tais como seu diretor de campanha John Podesta, para depois repassar os e-mails hackeados para terceiros, como o Wikileaks, que os publicaria durante a campanha, diminuindo as chances de Clinton.
Entrevistas constantes estão sendo concedidas recentemente pelo Presidente Barak Obama onde ele afirma que teria advertido o presidente russo Vladimir Putin e afirma que, na reunião de cúpula do G20 em Hangzou, China, em setembro passado, ele teria dito a Putin que “parasse com isso”, numa referência ao alegado ataque cibernético de agentes russos contra os servidores de computador do Comitê Nacional do Partido Democrata e também contra as contas de email de funcionários da campanha de Hillary Clinton.
A administração Obama foi até o ponto extremo de estabelecer sanções contra o governo russo aparentemente por causa da confusão, e o presidente dos serviços de inteligência dos EUA escreveu um relatório para detalhar a suposta intervenção de Hackers russos. Se as alegações são verdadeiras ou não, ainda não se sabe – até o momento elas mão passam e alegações dada a falta de evidências do relatório oficial – mas o que é mais impressionante em todo esse episódio é o fato de que o presidente que deixará o cargo e o presidente que assumirá tenham visões tão diametralmente opostas quanto a aceitar ou jogar no lixo as alegações da comunidade de inteligência dos EUA.
Quando as primeiras notícias sobre os fatos começaram a espocar na imprensa, no final de novembro e em dezembro, Trump e sua equipe reagiram furiosamente e questionaram a credibilidade e veracidade da CIA e do FBI, afirmando que estas pessoas são as mesmas que disseram ao público (norte)americano que Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa.
Trump continua com raiva e disparando contra os espiões (norte)americanos, recusando-se a aceitar as declarações coletivas das 17 agências de inteligência e tendo uma atitude mais cautelosa quanto ao assunto que outros membros de seu partido, tais como o guerreiro da Guerra Fria Senador John McCain e o falcão da Segurança Nacional Senador Lindsay Graham.
Enquanto a administração Obama, já nos seus estertores, aproveitou a situação para disparar novas sanções contra funcionários e entidades russas, o presidente eleito repete suas assertivas de que é necessária uma reaproximação com Moscou, para recomeçar o relacionamento, e estreitar laços dos EUA com a Rússia. O que tudo isso revela é que por baixo da superfície ruge a tensão, quer dizer, a desconfiança e o criticismo do presidente eleito Donald Trump em relação aos serviços de inteligência dos Estados Unidos.
É de conhecimento geral que o presidente eleito não quer receber o Briefing Presidencial Diário dos serviços de inteligência e que só os receberá quando as informações forem atualizadas. De várias formas isso é muito inovador, pois o BPD por muitos dias informa as mesmas e repetidas coisas, até que novas informações sejam adicionadas. Mas também é um sinal de falta de respeito por parte do presidente com os serviços de inteligência (norte)americanos.

O presidente Trump não está particularmente impressionado com o nexo de poder entre Washington DC e a CIA, FBI e NSA. Ele se demonstra consciente de que as agências de inteligência podem trabalhar eficientemente, mas também de que podem cometer erros crassos, como no caso dos programas de armas de destruição em massa do Iraque. Dessa forma, pela primeira vez na história moderna, um presidente dos Estados Unidos assumirá o poder na Casa Branca e consequentemente sobre as agências de inteligência com um bem sabido senso de ceticismo evidente em relação a elas e seus chefes. Como essa desconfiança agirá e qual papel desempenhará no Gabinete Oval e além dele terá ramificações significativas para a Política Externa de Trump e os interesses globais dos EUA.


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