Resultado de imagem para exército russoUma breve explanação sobre o poderio dos exércitos...
As melhores forças armadas do planeta?


18 de janeiro de 2017, The Saker, tradução de btpsilveira

Escrevi recentemente um artigo denominado Risks and Opportunities for 2017 (“Riscos e oportunidades em 2017” – você pode encontrar a tradução aqui - NTrad) fiz algumas colocações que chocaram muitos leitores. Escrevi:
A Rússia é agora o país mais poderoso do planeta (...) e não só por serem as Forças Armadas da Rússia provavelmente as mais poderosas e mais capacitadas do planeta (mesmo que não sejam as maiores)(...) A Rússia é o país mais poderoso do planeta por duas coisas: a Rússia rejeita e denuncia abertamente, o sistema político, econômico e ideológico mundial que os EUA impuseram ao nosso planeta desde a 2ª Guerra Mundial, e porque Vladimir Putin conta com o sólido apoio de mais de 80% da população russa. A maior força da Rússia em 2017 é força moral e força política, é a força de uma civilização que se recusa a jogar pelas regras que o Ocidente conseguiu impor ao resto da humanidade. E agora que a Rússia se movimenta, outros inevitavelmente a apoiarão e seguirão (outra vez: especialmente na Ásia).

Enquanto alguns simplesmente colocaram as afirmações de lado como uma hipérbole ridícula, outros me pediram para explicar como cheguei a esta conclusão. Tenho que admitir que o parágrafo ficou mesmo ambíguo: primeiro, fiz uma declaração explícita sobre as capacidades do exército russo, e a seguir, a “evidência” que apresentei foi de natureza moral e política! Não é de se admirar que alguns leitores tenham encarado o artigo com reservas.
Na realidade, acima temos um exemplo de uma das minhas piores fraquezas: tendo a assumir que escrevo para pessoas que chegam às mesmas conclusões que eu, que enxergam as questões pelo mesmo ângulo e entendo as implicações do todo. Erro meu. Vou tentar expor devagar e com clareza o que quis dizer e esclarecer meu ponto de vista sobre o assunto. No entanto, para fazer isso, há um certo número de premissas que acho necessário esmiuçar para tornar as coisas ainda mais compreensíveis.
Em primeiro lugar, como medir as qualidades de uma força armada e quais os parâmetros para comparar forças armadas de países diferentes?
Para isso, a primeira coisa que temos que deixar imediatamente de lado por ser absolutamente inútil, é a prática de “contar feijões”: contar o número de tanques, de blindados para transporte de pessoal, veículos de combate da infantaria, peças de artilharia, aviação, helicópteros e navios do país “A” e do país “B”, para concluir quais dos dois é o mais “forte”. É uma perda de tempo monumental. Depois, desmentir mais dois mitos: quem tem mais tecnologia ou mais dinheiro vence as guerras. Como já discuti esse assunto em detalhes aqui – em inglês, não vou me estender sobre a questão.
A seguir, penso que o objetivo de qualquer força militar engajada em um conflito é alcançar um objetivo político específico. Ninguém vai para a guerra pela guerra em si mesma ou só para alcançar a “vitória militar”, mas por uma noção política bem estabelecida. Daí que, sim, a guerra é a continuação da política por outros meios. Por exemplo, se você conseguiu dissuadir um potencial agressor, você pode cantar vitória, ou pelo menos, uma performance vitoriosa, caso o objetivo primário de suas forças armadas fosse apenas conter, dissuadir o agressor. Claro que a definição de vitória pode ser a destruição das forças armadas inimigas, mas nem sempre é necessário que assim seja. A Inglaterra foi vencedora da Guerra das Malvinas, mesmo quando se penso que as forças armadas da Argentina estavam longe de ser destruídas. Há casos em que o objetivo da guerra é genocídio e daí não basta apenas destruir as forças armadas inimigas. Vamos dar uma olhada em um exemplo recente: de acordo com declaração oficial de Vladimir Putin os objetivos oficiais da intervenção militar russa na Síria eram: 1) dar estabilidade à autoridade legítima e 2) criar condições para o estabelecimento de um compromisso político. Não dá para negar que as forças armadas russas alcançaram completamente seus objetivos, mas essa “vitória” foi alcançada sem a necessidade da destruição completa das forças inimigas. Como se sabe, a Rússia poderia simplesmente ter usado seu poder nuclear ou bombardeio em tapete para destruir, eliminar o Estado Islâmico, mas isso teria resultado em uma catástrofe política para a Rússia. O que aconteceu na Síria pode ser considerado uma “vitória militar”? Digam vocês mesmos!
Assim, como o objetivo das forças armadas de um país é a conquista de objetivos políticos específicos, isso implica em dizer que é completamente nonsense dizer que essas forças armadas podem fazer tudo, a qualquer tempo e em qualquer lugar. Você não pode usar um exército a não ser em circunstâncias muito específicas:
1 ) Onde: espaço geográfico
2 ) quando: tempo, duração
3 ) para que: objetivo político
Bem, até onde posso ver, especialmente nos Estados Unidos, a visão é diametralmente oposta. Parece algo como isso: nós temos o exército mais bem treinado, melhor equipado e armado no mundo; nenhum país pode competir com nossos bombardeiros invisíveis avançados, nossos submarinos nucleares, nossos pilotos são os mais bem treinados do planeta, temos capacidade de guerra centrada em tecnologia cibernética, capacidade de ataque global, reconhecimento e inteligência baseada em satélites, temos porta-aviões, nossa força Delta pode derrotar qualquer força terrorista, gastamos mais dinheiro treinando nossas forças especiais que qualquer outro país, nos temos mais navios e tanques que qualquer outra nação, etc. etc. etc, e cousa e lousa e a asa da maripousa...
Tudo isso não passa de uma rematada besteira. A realidade é que no teatro europeu da Segunda Guerra Mundial os Estados Unidos desempenharam um papel secundário, e depois disso suas únicas “vitórias” podem ser chamadas de constrangedoras: Granada (mais ou menos) e Panamá (quase sem oposição). Posso até concordar que os (norte)americanos tiveram sucesso ao dissuadir um ataque do exército soviético, mas então teria que concordar igualmente que o exército soviético também conseguiu dissuadir o exercito dos EUA. Qual dos dois conseguiu uma vitória? Também é verdade que a China nunca foi atacada nem pelos soviéticos nem pelos (norte)americanos. Isso significa que os chineses dissuadiram vitoriosamente soviéticos e (norte)americanos? Se você disser que “sim”, você terá que aceitar que os chineses fizeram isso com um custo mínimo ante as despesas militares dos Estados Unidos e assim, qual dos dois é mais efetivo? Os EUA ou a China? Dê uma olhada então nas intervenções militares dos Estados Unidos, e há uma lista enorme disponível, e pense nos objetivos que foram realmente conquistados por essas operações militares. Se eu tivesse que escolher uma “menos pior”, escolheria com relutância a Operação Tempestade no Deserto, a qual deveria libertar o Kuwait dos iraquianos. Isso foi feito, mas a que custo e com quais consequências?!
Na grande maioria dos casos, quando as forças armadas russas são avaliadas isso é feito sempre comparando-as com as forças armadas dos EUA. Mas faz algum sentido comparar as forças armadas da Rússia com um exército que tem um longo histórico de não conseguir alcançar seus objetivos políticos? Sim, sim, sim, as forças armadas (norte)americanas são imensas, inchadas, as mais caras do planeta, a que mais usa tecnologia intensivamente e seus fracassos são sistematicamente abafados pela mais poderosa máquina de propaganda na história da humanidade. Mas alguma dessas coisas a faz mais efetiva? Digo sem medo de errar que longe de ser efetiva, ela é fantasticamente desperdiçada e incrivelmente incapaz, pelo menos de um ponto de vista estritamente militar.

Ainda em dúvida?

OK. Vamos então dar uma olhadinha no “melhor entre os melhores”: as Forças Especiais dos Estados Unidos. Por favor, mostre pelo menos três operações executadas com sucesso pelas forças especiais dos Estados Unidos. Mas que não sejam pequenas operações realizadas contra pessoal mal treinado e mal equipado entre insurgentes do Terceiro Mundo mortos em ataques realizados de surpresa. Isso não vale. O que podem as forças especiais dos Estados Unidos apresentar em comparação de, digamos, Operation Storm-333 (Operação Tempestade 333 – realizada pelas forças especiais e spetsnaz da União Soviética no Afeganistão, quando Hafizullah Amin foi deposto e Babrak Karmal colocado em seu lugar – NTrad) ou a liberação de toda a península da Crimeia sem que morresse uma única pessoa? Não é atoa que os maiores blockbusters sobre as forças especiais dos Estados Unidos foram baseados em derrotas abjetas como “Falcão Negro em Perigo” ou “13 horas: os soldados secretos em Benghazi”.
Já para a alta tecnologia usada pelos Estados Unidos, não posso deixar de lembrar quão profundos são os pesadelos em curso como o F-35 ou o destroyer classe Zumwalt, ou mesmo tentar explicar que tática desleixada tornou possível que as forças de defesa aérea da Sérvia abatessem um supostamente “invisível” e super secreto F-117ª usando um velho míssil S-125 da era soviética, entregue em 1961!
Não há Schadenfreude (palavra alemã que significa a alegria causada pelo prejuízo ou dano – de outrem – claro. No Brasil, diríamos: “pimenta nos olhos dos outros é refresco” NTrad) para mim ao trazer à cena qualquer desses fatos. O que quero colocar é que não existe base ou razão válida para o reflexo condicionado que a maioria das pessoas possui de usar o exército dos Estados Unidos como parâmetro para medir o poderia de outras forças armadas pelo mundo. Este reflexo é resultado de ignorância e propaganda constante, não é racional. O mesmo vale, é claro, para outra força militar super propagandeada que é sempre apresentada como incrivelmente bem treinada e competente. Falo, é claro, das forças armadas de Israel, o IDF. A realidade é que em 2006 o IDF não foi capaz de conquistar a pequena cidade de Bin Jbeil, localizada apenas a duas milhas da fronteira de Israel. Por 28 dias o IDF tentou obter o controle de Bint Jbeil contra uma força de segundo escalão do Hezbollah (as forças de primeira escalão do Hezbollah foram deslocadas para o Rio Litani com a intenção de proteger Beirute) e falhou totalmente apesar de ter uma grande superioridade em números e tecnologia de armamento.
Tenho conversado pessoalmente com oficiais dos Estados Unidos que treinaram junto com os membros do IDF e posso dizer que eles não estão impressionados. Justamente como as guerrilhas afegãs, que são unânimes ao dizer que o soldado soviético era bem melhor que os atuais soldados dos Estados Unidos.

Falando do Afeganistão

Você deve se lembrar do 40º Exército Soviético, que foi encarregado de lutar contra os “guerreiros da liberdade” afegãos, e que estava muito mal equipado, sem treinamento adequado e terrivelmente mal assessorado em termos logísticos? Por favor, dê uma olhada neste relatório chocante sobre as condições sanitárias suportadas pelo 40º Exército Soviético e compare com os 20 bilhões de dólares por ano, gastos pelos EUA apenas com ar condicionado no Afeganistão e no Iraque! Daí compare as ocupações dos Estados Unidos e dos Soviéticos em termos de performance: Os soviéticos não só controlavam o país inteiro durante o dia (à noite os insurgentes afegãos controlavam a maioria do país e as rodovias), como também controlavam as maiores cidades sete dias por semana, vinte e quatro horas por dia (24/7). Em contraste, os Estados Unidos controlam mal e mal a capital Kabul e províncias inteiras estão em poder dos insurgentes. Os soviéticos construíram hospitais, represas, aeroportos, estradas, pontes, etc. Por sua vez, os (norte)americanos construíram exatamente... nada. Além disso, nunca é demais lembrar que, em cada entrevista que tenho visto, os afegãos são unânimes em afirmar: os soldados soviéticos eram inimigos muito mais duros que os (norte)americanos.
Poderíamos gastas páginas e mais páginas nesse assunto, mas vamos parar por aqui e propor que uma coisa é a imagem construída pelas Relações Públicas do exército dos Estados Unidos (e de Israel) e outra muito diferente é a sua real capacidade e performance. Há coisas nas quais os EUA são realmente muito bons (deslocamento em grandes distâncias, guerra de submarinos em águas temperadas, operações de entrega de material e logística, etc), mas sua efetividade, e a eficácia, globalmente considerando, é muito baixa.

Pois então. O que faz as forças armadas da Rússia tão boas?

Um dos motivos: a sua missão, de defender a Rússia, é compatível com os recursos da Federação Russa. Mesmo que Putin quisesse, a Rússia não tem capacidade para construir 10 porta-aviões, instalar e manter centenas de bases no estrangeiro ou gastar mais em “defesa” que todos os outros países reunidos. O objetivo político específico entregue para cumprimento ao militar russo é muito simples: impedir ou repelir qualquer ataque contra a Rússia.
Em Segundo lugar, para cumprir sua missão, as forças armadas russas precisam ser capazes de contra-atacar, repelir e prevalecer contra o inimigo numa distância máxima de 1.000 km ou menos a partir da fronteira russa. A doutrina militar russa coloca os limites dessa operação defensiva um pouco mais longe e inclui a derrota completa das forças inimigas e ocupação de seu território em uma profundidade de 1.200/1.500 km (Война и Мир в Терминах и Определениях, Дмитрий Рогозин, Москва, Вече, 2011, p.155) mas na realidade essa distância pode ser bem menor, especialmente no caso de um contra-ataque defensivo. Mas não se engane, isso ainda é uma tarefa formidável, dado o imenso tamanho das fronteiras russas (mais de 20.000 km de fronteira) que segue através de todos os tipos imagináveis de geografia, desde desertos sem água até montanhas da região do Polo Norte.
Esta é a coisa formidável: as forças armadas russas atualmente são capazes de defender-se de qualquer inimigo imaginável ao longo de todo o perímetro do país. O próprio Putin disse recentemente: “Podemos dizer com certeza: somos mais fortes que qualquer agressor potencial. Qualquer um!” Entendo que para a maioria da audiência (norte)americana isso soará como a típica conversa fiada de jardim que os políticos e militares dos Estados Unidos dizem em cada ocasião pública, mas no contexto russo, isso é uma novidade absoluta: é a primeira vez que Putin diz coisa como essa. De qualquer forma, os russos preferem se lamentar da superioridade numérica que seus adversários parecem ter (quer dizer, eles têm – o que todo militar russo ou analista sabe muito bem que nada significa [acrescente-se: todo analista sério, russo ou não – Ntrad]).
As forças russas são realmente inferiores numericamente que a OTAN ou China. De fato, qualquer um pode argumentar que para o tamanho da Federação Russa, as forças armadas russas são minúsculas. Mas são excepcionalmente equilibradas em termos de capacidade e fazem uso magistral das características únicas da geografia russa.
A Rússia é um país muito mais “ao norte” que, por exemplo, Canadá ou Noruega. Dê uma olhada para a grande maioria das cidades e vilas no Canadá ou na Escandinávia e onde se localizam. Depois, olhe o mapa da Rússia e as latitudes nas quais as cidades russas estão localizadas. A diferença é impressionante. Tome, por exemplo, Novosibirsk, que na Rússia é uma cidade considerada no Sul da Sibéria. Está quase na mesma latitude de Edinburgo, Scotland, Grande Prairie, Alberta ou Malmo, na Suécia.
É por isso que os equipamentos usados pelas forças armadas russas precisam ser certificadamente operacionais em temperaturas que variam de -50ºC a +50ºC (-58ºF a 122ºF). A maioria do equipamento ocidental sequer consegue funcionar nessas temperaturas extremas. Evidentemente, o mesmo pode ser dito do soldado russo, que é treinado para trabalhar em todo esse intervalo de temperatura.
Não acredito que haja muitos outros militares que possam dizer ter essa capacidade, e definitivamente muito menos o soldado (norte)americano.
Outro mito que deve ser desmentido é o da superioridade tecnológica ocidental. Mesmo sendo verdade que em alguns campos específicos os soviéticos nunca foram capazes de acompanhar o progresso do ocidente, como por exemplo, microchips, não se pode negar que eles foram os primeiros a desenvolver uma grande lista de tecnologias militares, tais como radares fásicos de interceptação, capacetes montados com visores para pilotos, mísseis subaquáticos supercavitantes, recarregadores automatizados para tanques, para quedas capazes de entregar veículos blindados, submarinos de ataque de casco duplo, ICBMs móveis, etc.
Como regra, os sistemas de armamentos ocidentais são mais pesadamente tecnológicos que os russos, isso é verdade, mas isso não se deve a uma falha das capacidades russas, mas a uma diferença fundamental de design. No ocidente, os sistemas de armamento são desenhados por engenheiros que usam as últimas tecnologias. A seguir, as missões são adaptadas a elas. Na Rússia|, o exército define a missão a ser cumprida e então se busca a tecnologia mais simples e barata capaz de ser usada para o cumprimento total da missão. É por isso que os aviões russos MiG-19 (1982) não é operado por sistema “Fly-By-Wire” (sistema de comando das superfícies móveis do avião por computador – Ntrad) como o F-16 dos EUA (1978) e sim pelos “velhos” comandos de voo mecânicos. Eu poderia acrescentar aqui que uma estrutura mais avançada e o uso de dois motores em vez de um como no F-16, deu ao MiG-29 uma capacidade superior de manobra (envelope de voo). Porém quando necessário, os russos são capazes de usar o fly-by-wire, como, por exemplo, no Su-27 (1985).
Por último, mas não menos importante, comparativamente, as forças nucleares russas são atualmente mais modernas e capazes que as dos EUA. Mesmo os (norte)americanos admitem isso.

Então, o que significa tudo isso?

Significa que apesar de ter recebido uma missão dificílima, de prevalecer sobre qualquer possível inimigo ao longo de 20.000 km de fronteiras e numa profundidade de 1.000 km, as forças armadas russas têm demonstrado serem capazes de cumprir a missão na totalidade, seja a de deter ou derrotar um inimigo potencial, seja uma insurgência Wahabi (que os especialistas ocidentais descrevem como “imbatível”), um exército georgiano bem treinado e armado (apesar de numericamente inferior e mal comandado durante aws horas cruciais da guerra, revelando fraqueza na cadeia de comando e controle), o desarmamento de mais de 25.000 soldados ucranianos (supostamente “excelentes”) na Crimeia sem disparar um único tiro fatal, e claro, sem esquecer a intervenção militar na Síria, onde uma pequena força russa reverteu a maré da guerra.
Concluindo, quero voltar à declaração que já fiz anteriormente sobre ser a Rússia na atualidade o único país que se opõe abertamente ao modelo civilizacional ocidental e cujo líder, Vladimir Putin, goza do apoio de mais de 80% da população. Esses fatores são cruciais para a avaliação das forças armadas russas. Por que? Porque eles ilustram o fato de que o soldado russo sabe exatamente porque (ou contra quem) ele está lutando, e que quando ele é levado para algum lugar de conflito, ele não está lá para defender a Gazprom, Norilsk Nickel, Sberbank ou outra corporação russa qualquer: ele sabe que está lutando por seu país, por seu povo, sua cultura, pela sua própria liberdade e segurança.
Além disso, o soldado russo também sabe que o uso da força militar não é a preferida pelo seu governo, nem a primeira opção, mas é usada apenas quando todas as outras opções foram tentadas até a exaustão. Ele sabe que o Alto Comando Russo, o Kremlin e o Estado Maior não querem encontrar um pequeno país mais fraco para derrotar, só para dar exemplo aos demais. Finalmente, e tão importante quanto, o soldado russo está pronto para morrer por seu país enquanto executa uma ordem recebida. Os russos estão bem conscientes disso e não por outro motivo circulou recentemente na Runet (ambiente de internet na Rússia e países falantes de russo – NTrad) o que segue:
 
Tradução: sob as duas fotos está escrito: “soldados dos exércitos dos EUA e da Rússia, sob contrato, transportados para a zona de combate. O texto central diz: “um deles tem que ser alimentado, vestido, armado, pago, etc. O outro precisa apenas que lhe digam para onde ir e o que fazer. Ele executará sua missão, a qualquer custo

No fim das contas, o resultado de qualquer conflito é resolvido pela força de vontade dos soldados e acredito firmemente que o soldado comum de infantaria ainda é o fator mais importante em uma guerra, não um super homem super treinado. Na Rússia algumas vezes eles são chamados de “makhra” – os rapazes da infantaria, que não são especialmente bonitos, nem “machos” ao extremo, sem equipamento ou treinamento especial. São eles que derrotaram os wahabis na Chechênia e um custo altíssimo, mas derrotaram. São eles que produzem um número impressionante de heróis, que impressionam seus camaradas e seus inimigos, pela sua tenacidade e coragem. Não ficam bem em paradas e são muitas vezes esquecidos. Mas são eles que derrotaram mais impérios que qualquer outro soldado no mundo e que fizeram da Rússia o maior país na Terra.
Então, sim, atualmente, a Rússia tem a força armada mais capaz do planeta. Está cheio de países fora da Rússia que também tem forças armadas excelentes. Mas o que faz a força armada da Rússia ser única, e a combinação de suas capacidades que vão desde a luta anti terrorista, passando pela força nuclear e combinando com a extraordinária resiliência e força de vontade do soldado russo. Existem muitas coisas para as quais o soldado russo não foi capacitado, mas ao contrário das forças armadas dos Estados Unidos, o exército russo não é destinado a fazer qualquer coisa, a qualquer tempo, em qualquer lugar (também conhecido como ”ganhar duas guerras e meia” (o autor ironiza a suposta capacidade alardeada pelos militares dos EUA de serem capazes de lutar e vencer “duas guerras e meia” ao mesmo tempo- NTrad) em qualquer lugar do planeta.
Por enquanto, os russos estão sentados observando como os Estados Unidos, ajudados pelos soldados locais e pela OTAN não conseguem tomar uma cidade de pequeno porte como Mosul, e para dizer o mínimo, não estão nem um pouco impressionados. Mas os (norte)americanos podem ficar tranquilos, pois certamente Hollywood fará um novo blockbuster sobre esse fracasso embaraçoso, com medalhas sendo distribuídas às mancheias para o pessoal envolvido (exatamente como aconteceu no desastre em Granada). Os telespectadores de TV poderão sossegar ao ser reafirmado que “embora os russos tenham feito alguns progressos, suas forças ainda estão longe de sua contraparte ocidental”. Quem se importa?

The Saker

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