A Russofobia é um sintoma da implosão dos Estados Unidos

Finian Cunningham, tradução de btpsilveira

Houve um tempo em que a Russofobia era uma maneira eficiente de controlar a população – usada particularmente pela classe dominante para levar a população dos Estados Unidos a um estado de lealdade patriótica. Não é mais. Agora, a Russofobia é um sinal de fraqueza, de uma implosão desesperada entre a classe dominante dos Estados Unidos, a partir de sua decaída podridão interna.

Essa técnica de propaganda funcionou muito bem durante as décadas da Guerra Fria, quando a antiga União Soviética podia ser facilmente demonizada como o “comunismo sem Deus” e o “império do mal”. Não importava que esses estereótipos fossem falsos. Poderiam ser sustentados por causa do monopólio do controle da mídia ocidental pelos governos e órgãos reguladores oficiais.
A russofobia entre a classe política dos Estados Unidos está mais virulenta que nunca, embora a União Soviética não exista há mais de um quarto de século.
Isso se mostrou evidente mais uma vez nas audiências congressionais em Washington sobre a alegada interferência russa na política dos Estados Unidos na qual grande parte do governo e da imprensa (norte)americana acreditam, obcecadas pela russofobia e pela crença de que a Rússia é um adversário estrangeiro maligno.
No entanto, o poder da técnica de propaganda para causar a russofobia em grande parte da população parece estar diminuindo gradativamente desde o ápice vivido na Guerra Fria. Isso se deve parcialmente devido aos variados meios de comunicação global que desafiam o antigo monopólio ocidental que controlava a narrativa e a percepção das coisas. Atualmente a russofobia – demonizar o presidente russo Vladimir Putin ou as forças militares russas – não tem mais o mesmo potencial de amedrontar o público ocidental. De fato, devido à grande diversidade das fontes de notícias mundiais, já se pode dizer que as trapaças “oficiais” do ocidente, apresentando a Rússia como um inimigo, pronta, por exemplo, para invadir a Europa, ou alegadamente interferindo nos resultados eleitorais encontram um ceticismo cada vez mais forte – quando não são ridicularizadas por muitos cidadãos ocidentais.
O que parece cada vez mais evidente é que existe um abismo intransponível entre a classe política e a maioria da população quanto ao assunto da russofobia. Isso é verdade para os países ocidentais em geral, mas especialmente nos Estados Unidos. A classe política – os legisladores em Washington e os jornais da mídia corporativista – estão acusando freneticamente a Rússia de interferir nas eleições presidenciais dos EUA e que a Rússia tem um tipo qualquer de poder sinistro sobre a presidência de Donald Trump.
Mas esse frenesi de russofobia não está se refletindo entre a maioria dos cidadãos comuns dos Estados Unidos. Acusações raivosas de que a Rússia teria hackeado os computadores da rival de Trump, Hillary Clinton, do Partido Democrata, para espalhar informação prejudicial sobre ela; que essa sabotagem da democracia (norte)americana foi “um ato de guerra”; que o presidente Trump é culpado do crime de “traição” por “conluio” com uma “campanha de influenciação russa” – todas essas acusações sensacionalistas parecem ser preocupantes apenas para a privilegiada classe política. A maioria dos cidadãos comuns dos EUA, está mais preocupada em como viver em uma sociedade que desaba, ou simplesmente afasta as acusações com desprezo ou vê tudo isso como um monte de conversa fiada.
O porta voz do Kremlin, Dmitry Peskov, negou nesta semana as conclusões das audiências Congressionais sobre a suposta interferência russa nas eleições dos EUA. De forma firme, ele disse que os parlamentares e a mídia dos Estados Unidos estão “enredados” em suas próprias mentiras. “Eles estão agora tentando encontrar evidências para conclusões às quais já tinham inventado”. Disse Peskov.
Outra imagem que caberia como uma luva é que a classe política dos Estados Unidos está lutando contra moinhos de vento, correndo atrás da própria cauda ou fugindo da própria sombra. Parece ser uma ilusão provocada pela demência coletiva.
Incapaz de aceitar a realidade de que a estrutura governamental dos Estados Unidos perdeu sua legitimidade aos olhos da população, que o povo se rebelou elegendo uma pessoa de fora do establishment político, na forma de Donald Trump, um homem de negócios magnata-que-virou-político, que o colapso da política tradicional dos EUA é devido à atrofia de várias décadas da sua economia capitalista falida – a classe dirigente fabricou sua própria desculpa, tentando jogar tudo nas costas da Rússia.
A classe dirigente (norte)americana simplesmente não consegue aceitar, ou pelo menos chegar a um acordo com o fato do fracasso sistêmico de seu próprio sistema político. A eleição de Trump foi apenas um sintoma da desilusão generalizada entre os eleitores com o trem desgovernado do sistema de dois partidos, Republicanos e Democratas. É por isso que o fantasma da interferência russa no sistema político dos Estados Unidos tem que ser invocado, por necessidade, como uma maneira de “explicar” o fracasso abjeto e a consequente revolta popular.
A russofobia foi retirada do armário da Guerra Fria e reabilitada pelo establishment (norte)americano como uma distração para o colapso cada vez mais claro das políticas do país.
A autodestruição corrosiva parece não ter limites. James Comey, diretor do FBI disse ao Congresso nesta semana que a Casa Branca está sendo investigada por contatos ilícitos com a Rússia. Essa notícia espantosa apresentada por Comey foi saudada com aprovação geral por oponentes políticos da administração Trump, bem como pelos órgãos de imprensa.
O jornal The New York Times afirmou que na realidade o FBI está mesmo levando a cabo uma “investigação criminal no interior da Casa Branca”.
Outros órgãos de imprensa estão ventilando abertamente a possibilidade de que o presidente Trump sofra o impeachment.
Não há precedentes para a atmosfera política tóxica da russofobia em Washington. A administração Trump não consegue se mover ou conduzir normalmente a política do país por ser atacada a todo momento sob a suspeita de que é culpada de traição por conluio com a Rússia.
A reforma da assistência médica pretendida por Trump encontrou resistência entre Republicanos no Congresso porque muitos Republicanos estão mais interessados no assunto da investigação sobre a Rússia.
Quando se anunciou que o Secretário de Estado de Trump, Rex Tillerson, não compareceria a uma reunião da OTAN no próximo mês, mas que mais tarde, no mesmo mês, deveria visitar Moscou, esse itinerário foi interpretado como uma inadequada influenciação russa.
O que é tão sem precedentes no espetáculo do conflito político em curso é que não há a menor evidência para respaldar as alegações de um conluio Trump/Rússia. Tudo se baseia principalmente em boatos, ilações e vazamentos para a imprensa, a qual então passa a reciclar tais coisas como sendo “evidências”.
Devin Nunes, parlamentar do Partido Republicano e membro do Comitê de Inteligência da Câmara, disse no início desta semana que não vê nenhuma evidência real entre os documentos secretos que indiquem qualquer conluio entre a campanha de Trump e o governo russo.
Até antigos oficiais da inteligência como James Clapper e Michael Morell, que não são amigos de
Além disso, o diretor James Comey, que disse ao Congresso que sua agência está desenvolvendo uma investigação potencialmente criminal contra a administração Trump, ao mesmo tempo não confirma nem nega a existência de qualquer evidência.
E, como já se percebeu, a declaração de Comey da abertura de uma bisbilhotice sem prazo para acabar contra a Casa Branca foi recebida com aprovação ávida pelos adversários políticos de Trump, tanto em Capitol Hill (bairro habitacional de Washington DC. Também é uma metonímia para o Congresso (norte)Americano – NT) como na imprensa corporativista.
Vamos assumir por um momento que toda a história desse “conluio” Trump/Rússia seja realmente uma falsidade. Que não tem fundamento. Que não passa de produto de imaginação, como realmente há razões sólidas para acreditar. Mas vamos assumir que seja realmente falsa para fins de argumentação.
Então isso significaria que parte do governo dos Estados Unidos e sua presidência estão engajados em uma guerra civil estúpida.
A Guerra real é um conflito de poder dentro dos Estados Unidos dentro do contexto de que os partidos que sempre governaram não tem mais legitimidade para isso.
É a implosão dos Estados Unidos. Uma derrocada feita-em-casa. A russofobia é só um sintoma da decadência interna no coração da política dos Estados Unidos.

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