Os Estados Unidos não têm tropas suficientes para
tocar com sucesso uma campanha de contra insurgência no país.
por Charles V. Peña, no
site The American Conservative – trad: btpsilveira
De acordo
com os senadores John McCain (Rep – Arizona) e Lindsey Graham (Rep South
Carolina), a situação no Afeganistão é a de um “cheque perpétuo” (stalemate no original em inglês – NT)
que requer forças adicionais tanto dos EUA quanto dos membros da coalizão. Os
senadores citam os testemunhos do principal comandante no Afeganistão General
John W. Nicholson ao Comitê das Forças Armadas do Senado, no qual afirmou que
precisa de mais milhares de tropas. Atualmente existem cerca de 8.400 soldados dos
EUA no Afeganistão, mais cerca de 6.300 tropas de outros países. Assim, será que
mais alguns milhares de soldados – presumivelmente (norte)americanos – farão alguma
diferença?
A resposta
lógica é não.
O princípio básico
para uma operação de contra insurgência bem sucedida – e que é muito praticado
pelos ingleses – é que se requer 20 soldados para cada 1.000 civis, o que é o
padrão apregoado também no manual de contra insurgência do exército dos Estados
Unidos. Com uma população de cerca de 32 milhões de civis, isso significa uma
força de 640.000 tropas que seriam necessárias no Afeganistão (para que você
faça uma ideia de escala, considere que o total das tropas do exército dos EUA
em ação é de 500.000 soldados). Na realidade, você provavelmente teria que
combinar todo o exército dos Estados Unidos com todo o exército afegão de 183.000
soldados para preencher essa necessidade. Levar mais alguns milhares de
soldados para se juntar aos 15.000 (norte)americanos que já estão lá
dificilmente seria suficiente.
Para ser
justo com os senadores McCain e Graham, não é todo o território do Afeganistão
que necessita de operações de contra insurgência. Conforme o Inspetor Geral Especial
para a Reconstrução do Afeganistão, entre os 407 distritos do país, 133 estão
com conflitos em andamento e outros 41 estão sob domínio ou influência pesada
dos insurgentes. Isso representa uma população de cerca de 12 milhões de
pessoas, a qual requereria 240.000 tropas. Mesmo essa quantidade seria
demasiada para a coalizão liderada pelos EUA. Se todo o exército afegão –
183.000 tropas – assumisse a responsabilidade equivalente ao número de suas
tropas, ainda seriam necessários mais outros 25.000 soldados da coalizão ou dos
Estados Unidos para ser acrescentados aos que já estão mobilizados no país.
Mas contra insurgência é mais que contagem de tropas. Uma
operação de contra insurgência, para ter sucesso, requer o uso de dura – até mesmo
brutal – e indiscriminada força militar para impor a segurança e a ordem. Mais
uma vez os britânicos fornecem bons exemplos, como quando as suas forças destruíram
a rebelião dos Mau Mau na Quênia nos anos 50. O problema com essas táticas é
que ao mesmo tempo em que liquida o inimigo, o resultado é a morte
indiscriminada de civis inocentes, não importa o quão arduamente se tente evitar
os efeitos colaterais das operações. No último ano, bombardeios causaram 590 vítimas
entre os civis, com 250 mortes, quase o dobro do número alcançado em 2015 e o
maior desde 2009. Acredita-se que mais recentemente, bombardeios aéreos na província
de Helmand tenham causado a morte de uma dúzia de civis, principalmente
mulheres e crianças.
O resultado inevitável dos efeitos colaterais é a alienação da
população civil, que se torna cada vez mais solidária com os insurgentes. De
fato, esta é uma das lições mais importantes dos últimos 15 anos.
Ainda mais importante é o fato de que a ameaça no Afeganistão
não justifica uma presença militar (norte)americana contínua.
McCain e Graham acreditam que os Estados Unidos têm que
enfrentar e vencer o Talibã, a Al Qaeda, a Rede Haqqani e o Estado Islâmico. Mas
o objetivo principal do Talibã é a conquista do poder no Afeganistão e não lançar
uma guerra global contra os Estados Unidos. A Al Qaeda com certeza representa
uma ameaça interna ao Afeganistão, mas não representa necessariamente uma
ameaça militar – ou mesmo terrorista – para os Estados Unidos, como já
representou nos eventos de 11/09 . A Rede Haqqani é nacionalista por natureza e
quer que as tropas estrangeiras se retirem do Afeganistão e que os países
estrangeiros parem de se meter nos assuntos internos dos países muçulmanos. Já
o Estado Islâmico pensa em estabelecer um Califado Islâmico no coração do mundo
muçulmano.
O que eles têm em comum é o fato de serem grupos árabes sunitas
que pretendem impor a sua própria versão da Lei Islâmica da Sharia no Afeganistão
– mas na realidade o Estado Islâmico é oponente do Talibã, da Al Qaeda e da
Rede Haqqani. Todos os quatro grupos são ameaças internas para o governo afegão,
mas não uma ameaça militar ou terrorista direta – para não falar de ameaça existencial
– aos Estados Unidos que requeira o gasto de bilhões de dólares e a ameaça à
vida de (norte)americanos para derrotá-los.
Trata-se de uma guerra entre muçulmanos dentro
do mundo muçulmano. A guerra do Afeganistão só pode ser lutada e vencida pelos
afegãos.
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