Peter Korzun, março de 2017 –
tradução de btpsilveira
A situação no Oriente Médio está mudando com uma velocidade incrível.
Coisas que ontem eram inacreditáveis hoje se tornaram reais. Cada um desses
eventos faz parte de um quadro maior, com a região gradualmente se movendo da
beira do abismo para tempos melhores.
No dia 01 de março as forças iraquianas informaram que tomaram o
controle da última grande rodovia a oeste de Mosul, impedindo assim que os
militantes do Estado Islâmico fujam da cidade. A estrada leva a Tal Afar, outro
quartel general do Estado Islâmico, 40 quilômetros a oeste. Desde então, expulsaram
os militantes do aeroporto internacional, de uma base militar, uma estação de
energia e várias áreas residenciais. Os lutadores do Estado Islâmico começaram
a fugir. É questão de dias, senão de horas, a retomada do controle total da cidade
pelas forças iraquianas.
Quase derrotado no Iraque, o Estado Islâmico não tem para onde ir, a não
ser a Síria – país onde eles acabaram de sofrer uma derrota, com a retomada de
Palmira pelas forças do governo sírio. O apoio russo foi crucial na ofensiva do
exército sírio. O local da batalha final contra o grupo extremista será Raqqa,
último quartel general remanescente do grupo extremista, que está destinado a
ser derrotado, pois atores influentes na esfera mundial desejam vê-lo
erradicado do planeta.
A Turquia acaba de anunciar suas intenções de lançar uma ofensiva contra
Raqqa, mas só depois de tomar o controle de Manbij, cidade que está nas mãos
das Forças Democráticas da Síria (Syria Democratic Forces – SDF,
em inglês – NT) formadas principalmente de curdos. As partes estão a caminho de
um conflito que só beneficiaria o Estado Islâmico e outros grupos terroristas.
Os Estados Unidos não sabiam o que fazer para impedir um conflito entre um
aliado da OTAN e os curdos – as forças nas quais confiam para a luta contra o
Estado Islâmico. Foi então que Moscou agiu para evitar o pior, usando sua posição privilegiada de mediador. Manobrou para fazer o que
ninguém julgava ser possível. O Conselho Militar em Manbij informou no dia 02
de março que entregará áreas a oeste da posição inicial da cidade para as
forças do governo sírio, depois de um acordo mediado pela Rússia.
Agora, a cidade está nas mãos dos árabes e a Turquia não tem mais razão
para atacá-la. A Síria e a Turquia não estão em guerra.
Os Estados Unidos tinham prometido à Turquia que as forças curdas se
retirariam de Manbij para o leste do Rio Eufrates, mas isso nunca aconteceu. Agora a Rússia fez o que os EUA não
conseguiram fazer.
Como resultado efetivo da mediação russa, a Turquia pode fortalecer seus
planos de avançar para Raqqa, enquanto o governo sírio reforçou muito a própria
posição. Erdogan, presidente turco, já anunciou que está pronto para lutar contra o Estado
Islâmico junto com a Rússia. Ele está para ir a Moscou em 09 de março. O
resultado é que não haverá conflito entre a Turquia e a Síria.
As coisas estão mudando para o governo sírio e isso já está acontecendo
por algum tempo. Não é coincidência que as vozes estão surgindo, exigindo que
se convide o presidente Assad para a reunião de Cúpula Árabe em 29 de março em
Amã – cinco anos depois que a Síria foi expulsa por 22 membros da organização.
A Rússia, a Jordânia e o Egito estão envidando esforços para reconciliar a comunidade
árabe com o governo sírio. No último mês, o comitê parlamentar egípcio para questões
árabes pediu que a Síria retornasse para a Liga Árabe. Isso pode
significar a reconciliação entre a Síria e a Arábia Saudita – que apoia os
rebeldes sírios – coisa impensável há pouco tempo.
Em 2015, o presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, previu que a
Rússia poderia se enterrar indefinidamente no pântano sírio. Parece que ele
estava errado. Graças ao envolvimento da Rússia, pode-se ver a luz no fim do túnel,
para fazer o pântano se tornar coisa do passado.
Moscou pode facilitar o processo de junção entre o Irã e os Estados
Árabes nos esforços para encontrar um acordo sobre a Síria, que levaria a um
entendimento mútuo com a Arábia Saudita. Não se vê muitos relatos sobre estes
assuntos tão relevantes. Em 15 de fevereiro o presidente iraniano Hassan
Rouhani visitou o Kuwait e Omã. Em 25 de fevereiro o Ministro de Relações
Exteriores da Arábia Saudita, Adel Al-Jubeir, viajou para o
Iraque onde foi recebido pelo primeiro ministro do país, Haider
Al-Abadi. A tendência que se desenvolve é visível – xiitas e sunitas novamente
envolvidos em conversações e discutindo temas de importância crucial. Isso
soaria inacreditável pouco tempo atrás, mas hoje são fatos.
Todas essas tendências e eventos que surgem estão tendo lugar contra o
pano de fundo das conversações em Genebra que estão em andamento para
estabelecer a paz na Síria. Aqui, temos mais uma reviravolta inesperada nos
acontecimentos – a oposição síria concordou em se encontrar com os oficiais
russos!
De Acordo
com Paul Vallely, um Major General dos Estados Unidos
reformado e atualmente um dos principais analistas para a Fox News, as consultas entre os Estados
Unidos e a Síria devem começar em cerca de dois meses, depois que os
presidentes dos dois países se encontrarem. Disse ainda que a Rússia tem um
papel primordial a desempenhar no cenário.
Os últimos dias sacudiram literalmente o Oriente Médio. Assim, mais
coisas inesperadas devem acontecer para levar as coisas adiante. Bem em frente
a nossos olhos, o impossível se torna possível.
Como disse antes, a Rússia tem uma posição privilegiada para agir como
intermediário e fazer o papel adequado para atingir resultados possíveis. Se a
atual tendência continuar na mesma direção, levando aos resultados desejados,
os esforços da Rússia entrarão para a história como uma conquista
extraordinária de sucesso militar combinado com diplomacia efetiva.
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