White Helmets:
Quanto custa contar mentira tão grande?
Fev. de 2017 – Hiroyuki Hamada,
Counterpunch – tradução: E.Silva
Já era esperado, mas levou
certo tempo pra minha ficha cair quando fiquei sabendo que a propaganda da
organização Capacetes Brancos (1), bancada pelos Estados Unidos, havia mesmo
ganho o Oscar de melhor curta documentário. E isso, é claro, indica que
não é apenas aceitável inverter fatos e chamar um grupo de pessoas com
atividades criminosas documentadas de “heróis”, mas é aceitável também
premiá-las com um reconhecimento humanístico, artístico ou cultural. E
tudo isso só para favorecer uma guerra colonial contra um país que não quer mais
seguir as linhas traçadas pelo Império (2) (3).
Quanto custa contar tão grande
mentira? Qual o preço humano de tornar as pessoas cúmplices de um projeto de
morte e de sofrimento. Que consequências pagamos ao apagar fatos e
inverter a história quando nos vemos a nós mesmos como seres culturais? Mas
todas essas questões são talvez banais quando comparadas às 500 000 mortes,
deslocamento de metade da população e todas as destruições infligidas pelos
ataques do Império contra a Síria até o momento.
Esta é uma imensa operação que
envolve diversas camadas do establishment e da sociedade em geral. Como podem
tantas pessoas dizer que não estão vendo os fatos e aceitar as mentiras e as
enganações?
Os governos ocidentais mentem
sobre as dinâmicas do poder em jogo na Síria enquanto apoiam terroristas ao seu
serviço. A mídia palreia as narrativas oficiais, fabrica fatos e análises.
Artistas contribuem criando histórias para ajudar as pessoas a visualizar as
mentiras como parte da manufaturada “realidade”. Todos estes esforços são
apoiados por interesses financeiros que tiram proveito dos esforços de guerra e
da subsequente colonização neoliberal da Síria. E devemos notar que a Síria é
apenas um exemplo entre nações como Líbia, Iraque, Afeganistão, Iémen,
Nicarágua, Ucrânia e tantas outras (4).
Detesto criticar essas pessoas
que finalmente estão levantando suas vozes contra o governo dos Estados Unidos
depois de terem ficado em silêncio durante oito anos sob Obama – afinal de
contas eu tampouco sabia o quão “eficiente” Obama ia ser ao serviço dos poderes
corporativos. Eu também achei que ia ser legal ter um presidente negro pela
primeira vez. Mas, milhares de assassinatos por drones, inclusive de civis
inocentes, imensos resgates financeiros de bancos, cadeia para funcionários que
denunciam os crimes do governo, sete guerras e vigilância global? Como
pudemos fechar os olhos diante disso?
Mas, tudo bem, foi isso mesmo.
Mas agora eu tenho de expressar
minha objeção quando, ao sugerir que devemos resistir ao conjunto do sistema
como ele é, sou taxado de “Apoiador de Trump”, “amante de Putin” ou “apologista
de Assad” por aqueles que gostariam de promover as agendas de seus partidos
políticos, as quais não se encaixam muito bem no âmbito imperial.
Que desculpas têm essa gente
para apoiar um partido estado corporativo guiado por agências de espionagem,
Wall Street e pelo Complexo Militar-Industrial?
Com que autoridade querem
determinar a forma certa de governo para o povo sírio? A questão se torna urgente
quando o que eles apoiam para o povo sírio são grupos terroristas afiliados a
Al-Qaeda e suas violentas teocracias, enquanto que a maioria do povo sírio
apoia o governo secular do presidente Assad.
Como pode alguém ser tão
sugestionável ao ponto de se tornar um apologista do criminoso Império? Como
isso é possível? E eles dizem resistir a Trump e acabar com a discriminação de
imigrantes, o racismo, à discriminação de gênero e por aí vai. Como?
Acreditando no militarismo, no colonialismo, no corporativismo, no
establishment? Os partidos corporativos têm financiado a máquina de guerra em
massa com mil bases militares, dezessete agências de espionagem e usando mais
da metade de nossos impostos para colonizar outras nações para dar lucro a
grandes corporações que nos sugam até a última gota aqui mesmo nos EUA. E
ataques contra imigrantes, racismo e discriminação de gênero são ferramentas,
bem como o resultados, de tais explorações operadas por estes mesmos partidos.
Então como isso é possível?
É tão evidente. Vemos o mesmo
povo que deplora como são tratados os imigrantes nos Estados Unidos, apoiando a
guerra colonial contra a Síria, as violentas políticas estrangeiras dos Estados
Unidos contra as nações da América latina, a demonização da Rússia e por aí
vai. Como é possível que essas pessoas não vejam como se ligam os
pontinhos?
Pessoas vêm para os Estados
Unidos porque a pilhagem das conquistas imperiais está amontoada aqui.
Estas conquistas destruíram suas economias, comunidades e culturas. Se há
gente que mereça gozar da prosperidade do Império, essa gente é, em primeiro
lugar, o povo imigrante. Vamos dar-lhes as boas-vindas e deixá-los tomar conta
da nação que é tanto deles quanto nossa. Se isso não estiver acontecendo, os
Estados Unidos devem parar de interferir em outros países.
Estou farto das tentativas do
establishment para nos convencer de que as coisas são complicadas demais para
ser compreendidas, isso no objetivo de nos cegar, dos nos silenciar, de nos
excluir, explorar e subjugar. De onde partiu mesmo a conversa? As premissas são
falsas. Os fatos são mentiras. A História é uma mentira. As conclusões, as
políticas, os motivos e os resultados também são mentiras.
Acho que temos apenas de criar
um sistema funcional que seja efetivo para todos nós e, educadamente, de
maneira cordata, com o devido processo, peça a estes criminosos de guerra, a
estes aproveitadores da guerra e a estes políticos corruptos que fiquem
em suas prisões. A única razão legítima para a existência de forças armadas é
apoiar o povo em tal processo democrático.
Notes.
(4) http://www.counterpunch.org/2016/05/13/the-great-leap-backward-americas-illegal-wars-on-the-world/
Hiroyuki Hamada é um artista. Ele tem
feito exibições por todos os Estados Unidos, sendo na Europa representado por
Lori Bookstein Fine Art. Ele foi agraciado com várias residências, entre as
quais Provincetown Fine Arts Work Center, o Edward F. Albee
Foundation/William Flanagan Memorial Creative Person’s Center, o Skowhegan
School of Painting and Sculpture, e o MacDowell Colony. Em 1998, Hamada
foi recipiendário do prêmio Pollock Krasner Foundation, e em 2009 e ele recebeu
o Arts Fellowship da New Yourk Foundation. Ele vive e trabalha em Nova Iorque.
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