Não é à toa que Estados Unidos e Arábia Saudita espalham a histeria contra o Irã


05 de fevereiro de 2016 – por Viktor Mikhin, tradução de btpsilveira

Não se passa um dia sequer sem que os Estados Unidos vocalizem novas ameaças contra o Irã. Aparentemente, como não tem poder suficiente para “punir” a Rússia, Europa ou Israel, a nova administração decidiu partir para cima do Irã, criando uma história supostamente ameaçadora e desprezível de “bicho papão”. Dá para notar que as tensões entre Estados Unidos e Irã foram montadas propositadamente. Além do mais, os iniciadores e principais fornecedores de combustível para as crises recentes, como apontam com unanimidade os observadores e analistas políticos, são os Estados Unidos.


Por exemplo, planos para a introdução de novas sanções contra o Irã estão em andamento, como já anunciaram alguns senadores republicanos, entre acusações de que o país teria violado certo número de resoluções do Conselho de Segurança da ONU, ao lançar mísseis balísticos e alegadamente tentar desestabilizar o Oriente Médio. Essas declarações foram feitas pelo senador Lindsey Graham, membro do Comitê das Forças Armadas, durante a Conferência de Munique. O senador acrescentou que está convencido de que já passou a hora para que o Congresso examine os passos iranianos mesmo sem levar em consideração seu programa nuclear, e ao mesmo tempo quanto às atitudes de Teerã que não estão em harmonia com as políticas de Washington. O ocidente deverá também introduzir sanções individuais contra as pessoas que estão auxiliando o Irã no desenvolvimento de seus mísseis balísticos, e contra aqueles engajados em setores da economia iraniana que apoia direta ou indiretamente esta área de atividades do país persa.

No mês passado o Pentágono anunciou que as forças militares dos Estados Unidos no Golfo Pérsico foram colocadas “no mais alto estado de prontidão”, explicando essa medida pela deterioração das relações com o Irã. Foi apenas mais um passo tomado pela administração Trump contra o Irã. Alguns dias antes, os EUA expandiram as sanções contra Teerã, acrescentando 13 pessoas e 12 empresas em sua lista negra. Tudo isso tão logo Washington declarara sem providenciar qualquer explanação, que o Irã é um Estado Terrorista. Ao mesmo tempo, a Arábia Saudita, onde mulheres são apedrejadas pelas ruas e prisioneiros são decapitados também em público, que financia uma gama de organizações terroristas, não foi marcada como “Estado Terrorista”.

É interessante notar que muitos especialistas acreditam que Washington está, ao perseguir suas políticas anti-iranianas, pensando em fazer um acordo com a Rússia, usando para isso a instalação de mísseis defensivos na Europa como moeda de troca. Poderão também propor o reconhecimento dos interesses russos no Cáucaso, na Ucrânia e nos Balcãs em troca da não interferência de Moscou caso haja um conflito com o Irã. Já para Pequim, colocarão na mesa a possibilidade de importação de petróleo a preços baixos e a oportunidade de investir numa futura economia iraniana voltada para o ocidente, em troca da não intervenção em uma hipotética guerra contra o Irã.

Ao mesmo tempo, Washington está pensando em meios de incluir a Arábia Saudita em seus planos anti-iranianos, desde que é o maior adversário de Teerã na região. Não será tarefa assim tão difícil, dado que Riad está sempre disposta a se opor ao Irã sempre que possível. Caso Irã seja derrubado, somado com a situação na Síria, a Arábia Saudita terá a opção de alavancar sua influência nos mercados de Petróleo. A Arábia Saudita também está prejudicando os interesses iranianos no Iêmen, onde uma assim chamada coalizão liderada por Riad destrói vilas e cidades enquanto mata velhos, crianças e mulheres. O maior desejo da Arábia Saudita é que o Irã cesse sua existência como um país independente. Essas políticas fascistas deveriam ser condenadas ao redor do mundo.

A partir desta perspectiva, os sauditas seguem fielmente o princípio inventado por Goebbels – quanto maior a mentira, mais alto se deve anunciá-la e com mais empenho apoiá-la, na esperança de que a comunidade internacional acabe acreditando em alguma coisa. Por exemplo, ninguém menos que o Ministro de Relações Exteriores da Arábia Saudita, Adel al-Jubeir está acusando o Irã de suprir ilegalmente as forças oposicionistas no Iêmen e financiar o terrorismo internacional. Estamos encarando um país que dá apoio ao terrorismo, disse o diplomata saudita de alto nível, destacando que o Irã é o único país na região onde o Estado Islâmico ainda não cometeu atos terroristas. Pela mesma razão, deveria ser perguntado por que a Arábia Saudita, que está sendo acusada de trair os interesses do Islã, também ainda não testemunhou ataques terroristas em seu território, mesmo levando-se em consideração que é muito mais difícil organizar tais atos no Irã que na Arábia Saudita. Neste mesmo instante, a Arábia Saudita está financiando e suprindo com armas de todos os tipos as organizações terroristas. Porém, cedo ou tarde, aqueles mesmos terroristas entrarão em solo saudita e então Riad não terá tanto tempo para fazer perguntas.

Há algum tempo, Adel al-Jubeir exigiu que Teerã mudasse seu comportamento e princípios,  observando que, caso contrário, seria difícil para outros estados fazer acordos com o país. O principal diplomata saudita está convencido que não se pode ignorar o fato de que a constituição iraniana exige a exportação da revolução, acrescentando que o Irã viola o princípio de não interferência nos assuntos de outros estados e se recusa a cumprir a lei internacional. Em outras palavras, o saudita está tentando impor a outros países como dirigir seus próprios negócios. Aparentemente, depois de acumular uma fortuna enorme, que aliás já diminuiu bastante, alguns políticos não conseguem mais pensar direito.

Quanto ao Irã, está conduzindo políticas pacíficas e tentando estabelecer boas relações com seus vizinhos na Região do Golfo. É neste contexto que se deve colocar a visita recente feita pelo Presidente Hassan Rouhani a Omã e Kuwait. Para o presidente iraniano, a restauração de suas relações diplomáticas com o Kuwait e outras monarquias da região, entre elas a Arábia Saudita é um de seus principais objetivos. Certo número de monarquias do Golfo Pérsico retiraram seus embaixadores de Teerã janeiro passado, depois que multidões raivosas assaltaram a embaixada saudita em Teerã.  As agitações que levaram aos acontecimentos foram causadas pela execução de um famoso clérigo xiita na Arábia Saudita.

Se levarmos em conta que o Kuwait está ao norte do Golfo Pérsico e Omã ao sul, torna-se claro que o Irã está tentando superar a diplomacia saudita. Acrescente-se que os líderes do Qatar estão sempre em disputa com seu poderoso vizinho, mesmo sendo um país árabe. Além disso, o Qatar e a Arábia Saudita têm disputas territoriais a resolver.

Há mais um fator a considerar: o vizinho saudita ao norte – Síria – está sofrendo na sua furiosa luta contra terroristas e gangues radicais que se infiltraram em seu território por anos. Todas as organizações terroristas, mais dia menos dia, serão expulsas da Síria e provavelmente se arrancharão em território saudita.

Ao mesmo tempo, Teerã faz questão de deixar bem claro que quaisquer tentativas de intimidar o país não trará resultado nenhum para os agressores. Resultados serão conseguidos apenas através de diálogo e respeito mútuo, afirmou o Ministro iraniano de Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif. Falando em nome de seu país, Zarif afirmou que seu país não está buscando a posse de armas nucleares, tendo em vista que isso não aumentará a segurança do Estado.

A posição de Teerã é muito difícil e por isso o país está tentando estabelecer relações estratégicas com a Rússia, à qual percebe como um patrocinador da paz e da tranquilidade na região. Neste assunto, não se pode esquecer que, junto com Irã e a Turquia, a Rússia é um dos garantidores da trégua na Síria, onde o conflito armado está em curso já há seis anos. Se e quando a paz for alcançada na Síria, o resultado imediato será a estabilidade na região do Oriente Médio.



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