por Eric
Margolis, tradução
de btpsilveira
19 de março de 2017
"Information Clearing House" – Na incrivelmente tensa zona desmilitarizada (também conhecida como DMZ),
o “vilarejo da paz”, Panmunjon é um dos lugares mais esquisitos do mundo que jamais
visitei. Soldados duros da Coreia do Norte espreitam o tempo todo, vigiados por
sua vez por duros soldados da Coreia do Sul, todos com óculos escuros, jogando
um agressivo judô virtual entre “guerreiros”.
Quando eu filmava
em Panmunjon fui alertado para ter cuidado com os nortecoreanos que poderiam a qualquer
momento invadir a sala de conferência e nos levar para a Coreia do Norte.
Foi para essa Casa
de Doidos que o Secretário de Estado dos Estados Unidos, Rex Tillerson, novo em
folha e cheio de fusos horários, foi transportado a partir do ambiente não
menos turbulento de Washington. Depois de uma rápida olhada para a DMZ,
Tillerson anunciou: “pode parar, meninão”. Os Estados Unidos não tem mais “paciência
estratégica” com a Coreia do Norte e vão para a guerra para acabar com a “ameaça”
representada pela Coreia do Norte aos Estados Unidos, alertou ele.
Tillerson até
recentemente era CEO da EXXON e bem versado em assuntos internacionais, mas
talvez a península coreana simplesmente seja muito para que ele possa assimilar
assim tão rapidamente (no Brasil,
diríamos que é “muita areia para o seu caminhãozinho” – NT). Ameaçar
imediatamente com a guerra não é a melhor maneira de começar uma missão
diplomática. Acontece que está na cara que Tillerson está apenas lendo o script
fornecido pelo seu chefe, Donald Trump, cujo conhecimento sobre a Coreia do
Norte faz Tillerson parecer um sábio confuciano.
De volta ao credo
de Trump: seja estridente no Twitter e vá em frente com um porrete na mão.
O que significa
uma Guerra entre Estados Unidos e Coreia do Norte? Caso ocorra, o cenário é dos
mais sombrios.
Os Estados
Unidos têm cerca de 80.000 tropas militares na Coreia do Sul e no Japão, bem
como mais algumas unidades de luta em Guam, que tomamos dos espanhóis em 1898.
A Sétima Frota patrulha as águas da região, armada como bombas nucleares táticas.
As bombas (norte)americanas também podem ser encontradas na Coreia do Sul e em
Guam. Como vimos recentemente, os bombardeiros pesados B-1 e B-52 podem voar
desde os Estados Unidos até a Coreia.
A
Coreia do Sul tem uma formidável força de 600.000 tropas armadas e equipadas
com o que há de melhor atualmente no mundo militar. Estive com a Segunda
Divisão do Exército da Coreia do Sul na DMZ. Como soldado veterano, fiquei
impressionado com suas capacidades e espírito de luta.
O exército da
Coreia do Norte é enorme, com um milhão de tropas, mas está obsoleto. Sua
grande força em artilharia pesada compensa parcialmente a força aérea datada
dos anos 60. A artilharia pesada profundamente encravada nas montanhas ao norte
da DMZ e dirigida diretamente contra Seul é elemento chave do exército da
Coreia do Norte, que afirma que destruirá Seul, localizada a apenas 30 quilômetros
e que tem 20 milhões de habitantes
Estimativas dos
próprios Estados Unidos, feitas há uma década, dão conta de que os Estados
Unidos poderão ter 250.000 perdas em uma guerra que acarretará a morte de um
milhão de coreanos. É por essa razão que os Estados Unidos
evitaram até agora um ataque direto contra a Coreia do Norte. Ao contrário de
iraquianos, sírios, líbios e somalis, os norte-coreanos sabem lutar e estão
completamente equipados para uma guerra defensiva.
Com
certeza os Estados Unidos em caso de Guerra ficariam tentados a usar bombas
nucleares táticas contra o exército da Coreia do Norte bem como contra as armas
profundamente inseridas no terreno montanhoso. Sem elas, o poder aéreo,
principal coringa dos EUA, poderia perder muito de seu potencial destrutivo.
Não há dúvidas de que a Coreia do Norte seria devastada pelo potencial (norte)americano,
como já aconteceu na Guerra da Coreia nos anos 50. A Coreia do Sul tem planos
de ataques em massa por ar, mísseis e comandos contra os Quartéis Generais da
Coreia do Norte e contra o refúgio do líder Kim Jong-Un.
Está entre os
planos dos Estados Unidos o desembarque de tropas ao longo da longa e
vulnerável costa do país, o que obrigaria a Coreia do Norte a deslocar grande
número de tropas regulares e de milícias para se proteger.
A
força aérea da Coreia do Norte, bem como sua pequena frota, com certeza
desapareceriam nos primeiros dias de combate. Porém é provável que a Coreia do
Norte seria capaz de disparar algumas salvas de mísseis de média distância
contra o Japão. Se a guerra se tornar nuclear, o Japão provavelmente sofreria
um ataque nuclear, bem como Guam. Tóquio e Osaka seriam alvos prioritários.
As forças
nortecoreanas seriam capazes de avançar em direção a Seul, mas provavelmente não
mais longe que isso, pois seriam atacadas furiosamente pelos (norte)americanos
e sulcoreanos a partir de bases mais ao Sul. Os poderosos grupos de comando da
Coreia do Norte, totalizando 100.000 tropas, atacariam alvos primordiais sulcoreanos,
entre eles as bases compartilhadas com os Estados Unidos. Esses ataques seriam destrutivos
mas não decisivos, a menos que a Coreia do Norte use armas químicas ou
biológicas para inutilizar as bases aéreas da Coreia do Sul e seus portos em
Busan e Incheon.
É quase certo que
os Estados Unidos e a Coreia do Sul vencerão tal guerra, mas o custo será
sangrento e caríssimo. Pode-se ainda esperar a ameaça de intervenção de
exército chinês se surgir a possibilidade de que os Estados Unidos ocupem a
Coreia do Norte. A Rússia estaria logo adiante.
Por favor,
secretário Tillerson. Deixe de lado as ameaças, isso é com os generais. Trate de
praticar algum tipo de diplomacia ativa com o norte. Se existe uma guerra que ninguém
precisa, é essa.
E afinal de contas, esse tipo de guerra é retrógrada e idiota.
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