As elites corporativas no
comando já não buscam construir. Elas buscam destruir. Elas são agentes da
Morte. Elas anseiam pelo poder irrestrito para canibalizar o país, poluir e
degradar o ecossistema, para alimentar o desejo sem freios de riqueza, poder e
hedonismo. Guerras e “virtudes” militares são celebradas. Inteligência,
Empatia, Bem Comum são banidos. A Cultura é degradada em cafonice patriótica. A
educação é destinada apenas à proficiência técnica para servir à venenosa
máquina do capitalismo corporativo. A amnésia Histórica nos fecha o acesso ao
passado, ao presente e ao futuro. Esses valores, rotulados como improdutivos ou
redundantes, são descartados, esvaziados ou confinados ao esquecimento. A
repressão estatal é indiscriminada e brutal! E na regência desse escandaloso e
macabro espetáculo há um diretor insano tuitando absurdos desde a Casa Branca.
Grandes impérios mundiais -
Sumério, Egípcio, Romano, Maia, Khmer, Otomano e Austro-Húngaro- seguiram esta
mesma trajetória de colapso físico e moral.
Os últimos dirigentes do
Império são psicopatas, imbecis, narcisistas e desviantes, homólogos aos
depravados imperadores romanos Calígula, Nero, Tibério e Cômodo. O ecossistema
que sustenta o império está degradado e exaurido. O crescimento econômico, concentrado
em mãos de elites corruptas, está dependente de uma crescente escravidão por
dívida imposta à população. A inflada classe dirigente de oligarcas,
sacerdotes, cortesões, mandarins, eunucos, guerreiros profissionais,
especuladores financeiros e dirigentes corporativos sugam a sociedade até a
medula.
A míope resposta das elites ao
iminente colapso do mundo natural e da civilização é fazer com que a população
subserviente trabalhe ainda mais duramente em troca de menos, desperdiçar
capital em projetos grandiosos como pirâmides, palácios, muros fronteiriços,
fratura hidráulica, e empreender guerras.
A decisão do presidente Trump
de aumentar o gasto militar em 54 bilhões de dólares, cortando na carne o
planejamento nacional, é típica do comportamento de civilizações em estado
terminal. Quando caiu o Império Romano, este tentava manter um exército de meio
milhão de soldados, que parasitava os recursos do Estado.
Os complexos mecanismos
burocráticos criados por todas as civilizações terminam por arruiná-las. A
diferença, no que tange à atual civilização, como especifica Josep Tainter no
livro “The Collapse of Complex Societies,” (O Colapso das Sociedades Complexas)
é que agora se trata de um colapso global. As nações não mais colapsam
individualmente. A civilização mundial se desintegrará por inteiro.
As civilizações declinantes,
apesar dos sinais evidentes de sua decadência, se obstinam em restaurar sua
“grandeza”. Suas ilusões as condenam.
Elas não conseguem ver que as
forças que permitiram erigir a civilização moderna, precisamente a tecnologia,
a violência industrial e os combustíveis fósseis, são as mesmas forças que as
estão extinguindo. Seus líderes são treinados apenas para servir ao sistema e
veneram os velhos deuses que há muito exigem o sacrifício de milhões de
vítimas.
“A esperança nos leva a
inventar novos arranjos para velhas desgraças, os quais criam desgraças ainda
mais perigosas,” escreve Ronald Wright em “A Short History of Progress” (Uma
curta história do progresso). “A esperança elege o político com as promessas mais
vazias; e como qualquer corretor de ações ou vendedor de loteria sabe, a
maioria de nós prefere uma tênue esperança a uma prudente e previsível
frugalidade. A esperança, como a cobiça, alimenta o motor do capitalismo.”
Os delegados de Trump - Steve Bannon,
Jeff Sessions, Rex Tillerson, Steve Mnuchin, Betsy DeVos, Wilbur Ross, Rick
Perry, Alex Acosta e outros - não propugnam inovações ou reformas.
Eles são cães pavlovianos que
salivam diante de pilhas de dinheiro. Eles são programados para roubar os
pobres e saquear orçamentos federais. Sua determinada obsessão com seus
enriquecimentos pessoais os leva a desmantelar toda e qualquer instituição ou
abolir toda e qualquer lei ou regulamentação que se interponha à sua cobiça.
O capitalismo, escreveu Karl
Marx, é uma “máquina de destruir limites.” Ele é alheio a qualquer senso de
escala ou proporção. Uma vez que todos os empecilhos externos são suprimidos, o
capitalismo global mercantiliza os seres humanos e a natureza para extrair
lucro até a exaustão e o colapso. E quando se chega aos últimos momentos da
civilização, os degenerados edifícios do poder parecem desmoronar na noite para
o dia.
Sigmund Freud escreveu que as
sociedades, bem como os indivíduos, são guiadas por duas pulsões primárias. Uma
delas é a pulsão vital, Eros, a busca do amor, do cuidado, da proteção e da
preservação. A segunda é a pulsão de morte.
A pulsão de morte, chamada
Thanatos pelos pós-freudianos, é guiada pelo medo, pelo ódio e pela violência.
Ela busca a dissolução de tudo o que está vivo, inclusive os próprios seres
humanos. Uma dessas duas forças, diz Freud, é sempre ascendente. As sociedades
declinantes abraçam entusiasticamente a pulsão de morte, como bem observou
Freud em “O Mal-estar na Civilização,”, escrito às vésperas da ascensão do
fascismo europeu e da Segunda Guerra Mundial.
“É no sadismo — onde o instinto
de morte deforma o objetivo erótico em seu próprio sentido, embora, ao mesmo
tempo, satisfaça integralmente o impulso erótico — que conseguimos obter a mais
clara compreensão interna de sua natureza e de sua relação com Eros,” escreve
Freud.
”Contudo, mesmo onde a
satisfação do instinto surge sem qualquer intuito sexual, na mais cega fúria de
destrutividade, não podemos deixar de reconhecer que ela se faz acompanhar de
um grau extraordinariamente alto de fruição narcísica, devido ao fato de
presentear o ego com a realização de seus antigos desejos de onipotência.”
A pulsão de morte, como a
entendeu Freud, não é, em princípio, mórbida. Ela é excitante e sedutora. Eu vi
isso nas guerras que cobri. Um poder de ordem divina e uma fúria oriunda da
adrenalina, e até a euforia, tomam conta de divisões armadas e de grupos religiosos
ou étnicos, dando-lhes licença para destruir qualquer coisa ou qualquer um em
seu entorno. Ernst Juenger captou este “monstruoso desejo de aniquilamento” em
suas memórias da Primeira Guerra Mundial, “Storm of Steel” (Tempestade de Aço).
Uma população alienada,
desesperançada e acossada pelo desespero encontra empoderamento e prazer numa
orgia de aniquilamento que logo se metamorfoseia em autoaniquilamento. Ela não
tem interesse em preservar um mundo que a traiu e frustrou seus sonhos.
Ela busca erradicar este mundo
e substituí-lo por uma paisagem mítica. Ela se volta contra as instituições,
tanto contra grupos religiosos ou étnicos, que se tornam bodes expiatórios para
sua miséria. Ela destrói os recursos naturais com desprezo. Ela é seduzida pelas
fantásticas promessas dos demagogos e pelas soluções mágicas características da
direita cristã ou daquilo que os antropólogos chamam de “cultos de crise”.
Norman Cohn, em “The Pursuit of
the Millennium: Revolutionnary Messianism in Medieval and Reformation Europe
and Its Bearing on Modern Totalitarian Movements” (Perseguindo o Milênio:
Messianismo Revolucionário na Europa Medieval e da Reforma e sua Interconexão
com os Movimentos Totalitários Modernos) estabelece uma conexão entre aquele
período turbulento e nossa atualidade. Os movimentos milenaristas são uma
peculiar resposta psicológica coletiva a um profundo desespero social. Eles são
recorrentes na história humana. Não estamos imunes a eles.
”Estes movimentos têm tido tons
variados, da mais violenta agressividade ao mais meigo pacifismo; da mais
etérea espiritualidade ao mais terrenal materialismo; são incontáveis as
possíveis facetas da imaginação do Milênio, incontáveis os caminhos que a ele
conduzem,” escreve Cohen.
“Mas as similaridades podem
igualmente se apresentar como diferenças; e quanto mais comparamos
cuidadosamente os surtos de chilaísmo social militante durante a Idade Média
tardia com os movimentos totalitários modernos mais notáveis similaridades
aparecem. Os velhos símbolos e os velhos lemas foram substituídos por outros,
mas a estrutura básica das fantasias não parecem ter mudado substancialmente.”
Aqueles movimentos, diz Cohen,
ofereciam “um mito social coerente, o qual podia possuir inteiramente aqueles
que nele criam. Tal mito explicava seus sofrimentos, prometia-lhes recompensa,
mantinha suas ansiedades à distância, dava-lhes uma ilusão de segurança – mesmo
quando o guiava, os mantinha juntos através de um entusiasmo comum numa busca
sempre vã e amiúde suicida. Assim aconteceu que multidões atuaram com feroz
energia, compartilhando uma fantasia que, embora delirante, ainda lhes
proporcionava um alívio emocional tão intenso que podiam viver só por ele e
estavam perfeitamente dispostos a por ele morrer”.
Tal fenômeno que viria a se
repetir muitas vezes entre o século XI e o século XVI, ora numa área, agora
noutra, e que, apesar das óbvias diferenças de contexto cultural e de escala,
não é irrelevante para o crescimento dos Movimentos totalitários, com seus
líderes messiânicos, seus milagres milenaristas e seus bodes expiatórios
demoníacos, no presente século.”
A separação de uma sociedade da
realidade, como a nossa tem sido separada do reconhecimento coletivo da
severidade da mudança climática e das fatais consequências do império e da
desindustrialização, deixa-nos sem os mecanismos institucionais e intelectuais
para enfrentar nossa iminente mortalidade. Nossa sociedade existe num estado de
hipnose autoinduzida e de autoilusão. Ela busca euforias momentâneas e
significância em divertimentos indecentes e atos de violência e destruição,
inclusive contra pessoas que são demonizadas pelo perecimento dessa mesma
sociedade. Ela acelera sua autoimolação enquanto sustenta a suposta
inevitabilidade de um glorioso ressurgimento nacional. Idiotas e charlatães,
serviçais da morte, eles nos atraem para o abismo.
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* Nota
do Tradutor:
"Chris
Hedges é um cara tão "radical" que declarou em editorial que não
votaria em Bernie Sanders por este não ter-se declarado anti-imperialista. Nas
palavras de Chris Hedges, "para ser de esquerda, é preciso se declarar
anti-imperialista".
Mais
recentemente, ele participou de uma grande evento de nações autóctones e
pronunciou um discurso belíssimo, dizendo que não basta se opor a Trump, mas
que é preciso propor à sociedade uma plataforma anti-capitalista, socialista
mesmo.
Se
ele não apoiou sequer o Sander por achá-lo "mole", não o vejo
apoiando os terroristas da turma do Obama ou da Killary.
Para
Hedges, o inimigo não é Trump ou Bannon, mas o poder corporativo. E esse cara é
pastor ordenado pela Igreja da Divina Graça. Precisamos importar isso dos EUA,
os evangélicos de esquerda que citam Marx e outros cabras bons do mesmo
naipe.
Não
sou evangélico, como dá pra notar, mas tenho um grande amigo aqui no meu bairro
popular que é pastor batista. O cara era matemático e virou pastor crente.
Precisa ver o personagem. O cara é esquerda de verdade. Segue a teologia da
libertação e tem como líder inspirador o Dom Hélder Câmara.
Esse
mundo é muito mais louco do que possamos imaginar."
E.
Silva
MUITO BOM; há que se agradecer à tradução e veiculação.
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