Benjamin Franklin dizia que “a experiência é uma boa escola e só com ela
os tolos aprendem”. Ele foi suficientemente brilhante para se tornar o inventor
do para-raios, mas nem ele pode predizer a formação da União Europeia, que nem
com a experiência consegue aprender.
Quando diretamente consultada, a população da Europa rejeita
frontalmente os acordos de livre comércio, mas o Parlamento Europeu acabou de
aprovar um novo acordo de comércio, desta vez com o Canadá. Suas medidas centrais
serão aplicadas imediatamente, mesmo ainda não ratificadas pelos parlamentos
nacionais. Mesmo os imbecis mais empedernidos deveriam ter aprendido alguma
coisa com o caso da Grécia: Desde maio de 2010 o país foi cortado até o osso
pelos remédios drásticos receitados pelo Eurogrupo, Banco Central Europeu e
Fundo Monetário Internacional (FMI), e está novamente perto de mais um calote.
Seringas sujas estão sendo enfiadas em seu corpo arruinado, enquanto
espera a direita da Alemanha botar a Grécia para fora do hospital da eurozona.
E tem mais. Os orçamentos para a segurança social estão sendo pressionados em vários
membros da União Europeia, competindo uns com os outros para saber quem será
mais criativo na hora de pagar menos aos desempregados e deixar os estrangeiros
ao léu, sem tratamento médico. Mesmo assim, todos parecem estar de acordo com o
aumento do gasto com a “defesa”, como resposta à “agressão russa”, embora todos
também saibam que o orçamento militar da Federação Russa é dez vezes menor que o
dos Estados Unidos.
Será que o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Junker, entendeu
de uma vez por todas que s suas prioridades são indefensáveis? Buscando
inspiração na sabedoria espantosa de seu colega, o presidente francês François
Hollande, ele acaba de anunciar que pensa em não disputar um seguindo mandato.
Tendo assumido há três anos, alertou que sua presidência poderia ser “a última
chance”. Agora, ele gasta a maior parte de seu tempo planejando a “saída de um
estado membro”. Dá para entender que no último mês ele tenha disparado: “não há
futuro nenhum neste trabalho”.
Como candidato da direita
europeia, Juncker era mais conhecido como o principal defensor do paraíso
fiscal de Luxemburgo antes de se tornar presidente da Comissão, em 2014, graças
ao apoio da maioria dos parlamentares socialistas da europa. “Não sei o que nos
faria diferentes”, asseverou seu rival da Democracia Social, Martin Schulz; na
ocasião, Juncker admitiu candidamente que “Schulz concorda com a maioria de
minhas ideias”. É essa mesma proximidade ideológica que poderia explicar a
aprovação, em 15 de fevereiro, do acordo de livre comércio com o Canadá (CETA):
muitos parlamentares da social democracia votaram ao lado dos liberais. R
quando falamos da Grécia, o maior erro cometido nos 60 anos da política
europeia, a recusa peremptória da Alemanha de discutir o total da dívida grega
(por sinal insustentável), teve o apoio não menos decidido do governo francês
socialista, secundado pela quase fanática arrogância do presidente do Eurogupo,
Jeroen Dijsselbloem, um socialista holandês.
Antes de cada eleição, sempre se fala de uma suposta reorientação da
União Europeia. Soa muito bem, como um objetivo louvável, mas temos mesmo é que
ouvir a voz da experiência... Isso nos permitiria identificar aqueles políticos
que deveríamos descartar, evitando dessa forma mais um desapontamento logo à
frente, nos assuntos dos quais quase tudo ainda depende.
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