Trump faz na Síria o que disse que
faria. Viva
Trump!
Uma semana depois de o Pentágono apresentar seu relatório à Casa Branca, dia 28 de fevereiro, no qual delineia uma nova estratégia contra o terrorismo, há sinais de uma mudança de curso, muito estimulante, nas atividades em campo, dos EUA, na Síria. É notícia extraordinariamente alvissareira que o presidente Donald Trump esteja iniciando trilha nova na Síria.
Trump está fazendo o que disse que faria, sem se deixar intimidar pelo ataque incansável movido contra ele pelos grupos inconformados com a derrota eleitoral, de todos os mais diferentes grupos que povoam a Beltway [Avenida Perimetral, onde está o Departamento de Estado] em Washington, especialmente os Russófobos e todos quantos tiveram seus dias de poder dentro do establishment norte-americano, durante a era Barack Obama.
Trump, sem dúvida, está demonstrando que é homem de palavra, pelo menos no que tenha a ver com a Síria. Semana passada emergiram três coisas.
Primeira, os EUA rejeitaram a pré-condição da Turquia, sua aliada na OTAN, de que teriam de pôr fim ao apoio que dão aos curdos sírios, seus aliados no norte da Síria. Os EUA, isso sim, pretendem mergulhar mais fundo nas operações militares naquela região, aumentando o deslocamento para lá de Forças Especiais e o fornecimento de armas para os curdos sírios, incluindo helicópteros de ataque e artilharia.
Segunda, o Pentágono está contribuindo para o acordo de mútua proteção às respectivas retaguardas já firmado entre os curdos sírios, as forças do governo sírio do presidente Assad e a Rússia para, conjuntamente, implantarem um bloqueio de estradas contra os planos do exército turco para avançar na direção da cidade estratégica de Manbij a caminho da capital de facto do ISIS, Raqqa.
O que se vê em andamento é uma curiosa empreitada conjunta, para a qual as Forças Especiais transferiram-se para a cidade de Manbij, como "sinal visível de contenção" (nas palavras do porta-voz do Pentágono) contra a Turquia; e a Rússia está mandando comboios de alimentos e suprimentos médicos para aquela cidade, com conhecimento prévio e em coordenação com o Pentágono.
Os EUA sabem perfeitamente que o comboio russo levava também "algum
equipamento blindado" para Manbij. O porta-voz do Pentágono disse na
6a-feira que "Sabemos disso tudo. O governo russo também nos informou.
Nada mudou no que estamos fazendo."
Terceira, a partir desse extraordinário novo quadro de eventos em campo, vê-se que, sim, o governo Trump parece estar deixando para trás a dedicada prioridade (tanto declarada como clandestina) que o governo Obama sempre garantiu à agenda de 'mudança de regime' na Síria. Trump sempre disse que quer que os militares norte-americanos habituem-se a aplicar integral atenção a eliminar o ISIS, a al-Qaeda e os demais grupos terroristas. Agora, literalmente, estamos vendo acontecer, em campo.
O "não sabido sabido" aqui é quando os EUA passarão ao estágio de cooperação explícita com a Rússia na Síria – algo de que Trump já falou.
Muito depende do espaço que Trump consiga gerar para promover suas políticas externas independentes. Pela minha avaliação, tão logo comecem os preparativos para as vastíssimas operações militares para capturar Raqqa, onde o ISIS está firmemente implantado, e quando transpirar que esteja em preparação ali uma furiosa batalha, as forças dos EUA em campo precisarão de toda a ajuda que possam obter de todos os lados cujos objetivos se assemelhem – precisarão especialmente da ajuda dos russos. Trump contará com o secretário da Defesa general James Mattis para calibrar a mudança de rota.
As implicações disso tudo são, numa palavra, profundíssimas. Para começar, se é possível cooperação entre EUA e Rússia na Síria, o que impediria semelhante reunião de recursos também no Afeganistão? Um curioso flerte entre EUA e China no Afeganistão surgiu recentemente no horizonte.
O Afeganistão só pode ser estabilizado se houver esforços concertados de EUA, Rússia e China, com cooperação total em campo e também nas trilhas diplomáticas e políticas. Claro que esse deve ser um dos espectros que ronda o quartel-general paquistanês em Rawalpindi.
Sobre o que esperar das relações EUA-Rússia, leiam interessantíssima entrevista que o major-general Paul Vallely do Exército dos EUA concedeu à rede Fox News (muito íntima do círculo de Trump). Interessante também, o general viajou recentemente a Moscou sem alarde e teve um "encontro privado" com o vice-ministro de Relações Exteriores da Rússia Mikhail Bogdanov (que também é o Representante Especial do Kremlin para Oriente Médio e África).
Roberto, eu só acredito vendo acontecer de fato, não só na Síria mas também no Irã.
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