Por Jean Perier, tradução de btpsilveira
Temos visto meses a fio títulos como “O
Kremlin colocou Trump no Poder” e “Moscou interfere nos assuntos internos de
outros Estados”, e pelo andar da carruagem parece que o estoque de
sensacionalismos dessa espécie é inesgotável na imprensa ocidental. Bom. Para fazer o que já está ruim ainda pior,
agora todos os tipos de políticos deram para fazer declarações similares,
indicando que a recente campanha de demonizar a Rússia quer desesperadamente
fazer pelo menos alguns pontinhos.
Chegamos ao ponto em que leitores
enganados miseravelmente estão ultrajados com qualquer político europeu ou
(norte)americano que seja acusado de ter ligações com a Rússia, mesmo sabendo
que há outras figuras políticas com histórico escandaloso de apoio a
terroristas. Sim, mas esses não são condenados.
Ninguém quer nem saber se todas as
acusações recentes contra a Rússia não tem a menor base real em fatos, já que a
imprensa ocidental resolveu fazer ouvidos moucos para todas as agências de
inteligência do próprio ocidente, que afirmam que a assim chamada intervenção
russa não passa de notícia falsa (fake news).
Aqueles por trás dessa histeria toda estão interessados mesmo é em criar uma
frente unida contra a Rússia, para receber amplo apoio aos seus interesses especiais
(leia lucros), que crescem na mesma medida em que cresce o apoio à sua “causa”.
Estamos vendo a tentativa de recriar a mesma velha histeria de Guerra Fria que
no passado, fez os fornecedores de equipamento militar felizes com a abundância
de contratos impulsionados pelo medo, financiados pelo abandono de programas
sociais.
Já vimos tudo isso antes, mas o que permanece
ainda sem resposta clara é que se não foi o Kremlin quem colocou Trump no
trono, quem foi?
Vamos dar uma pequena olhada em dois pilares
de sustentação que levaram adiante a campanha presidencial de Trump desde o
primeiro dia. Um deles é Steve Bannon, antigo editor chefe e um dos fundadores
da Breitbart News. Um dos principais estrategistas ocidentais,
nasceu em uma família de católicos irlandeses, que amiúde apoiaram o Partido
Democrata. Formou-se em Planejamento Urbano, e então serviu na Marinha e subiu
até a posição de Chefe de Gabinete no Pentágono. Depois da sua exoneração,
Bannon adquiriu o mestrado e foi rapidamente contratado pela Goldman Sachs, tornando-se
ao mesmo tempo produtor de filmes. Em 1990, Bannon, junto com colegas da
Goldman Sachs, abriu seu primeiro Banco de Investimentos, Bannon & Cia, que
oferecia aos consumidores investimentos em projetos de mídia.
O outro pilar de sustentação de Trump
durante sua campanha presidencial foi o multibilionário Robert Mercer, que
ostentou com orgulho a posição de terceiro maior doador para Trump no período
que antecedeu a eleição. Ele é diretor executivo do fundo de investimentos
Reinaissance Tecnologies. Em 2011, Mercer investiu 10 milhões de dólares na já
mencionada Breitbart News.
Em apenas 10 anos, a Breitbart News se tornou um fenômeno da
mídia, ostentando o primeiro lugar entre seguidores no Facebook e Twitter,
entre todos os sites de mídia.
Não se deve esquecer que essas duas
redes sociais na internet desempenharam um papel crucial na vitória de Trump.
Para promover sua causa no Facebook, Trump investiu 56 milhões de dólares,
enquanto tuitava regularmente em sua conta pessoal no Twitter.
Para entender melhor o papel que desempenharam
na vitória de Trump a sua habilidade nas redes sociais, Bannon e Mercer,
devemos recordar que as firmas ocidentais de Tecnologia de Informação estão coletando
os assim chamados big data por anos a fio. Afinal de contas, tudo o que fazemos
nos dias atuais, seja na internet ou em nossa vida comum, deixa um rastro
digital. Pesquisas no Google, compras com cartão de crédito, online ou não,
caminhadas ou viagens com um smartphone no bolso, atividades nas redes sociais –
tudo está sendo coletado e arquivado. Por muito tempo, não se sabia como usar
esse amontoado imenso de informações – a não ser pelos anúncios direcionados
que vemos regularmente no facebook.
Hoje, podemos dizer com segurança que
o sucesso da campanha de Trump se deve ao fato de que ele soube tirar vantagem
dessas informações gigantescas e da Companhia que sabe como explorá-los – Cambridge
Analytica. Esta companhia se especializou em uma nova forma de marketing político
– chamada de microtargeting – baseado
na metodologia OCEAN. Quando Trump resolveu contratar a Cambridge Analytica em
junho de 2016, os analistas em Washington afirmaram que seria apenas um grão de
sal no oceano, mas o resultado final foi impressionante. A companhia estava
comprando todo tipo de informação sobre futuros eleitores, desde quais jornais
ele assina até seus registros médicos.
No final das contas, você pode obter
quase qualquer tipo de informação sobre seja lá quem for nos dias de hoje. Daí
a Cambridge Analytica simplesmente adicionou todos esses dados a uma listagem
de eleitores republicanos junto com as informações sobre seus comportamentos
dentro de redes sociais. Dessa forma, Trump sabia exatamente o que supostamente
deveria dizer aos seus eleitores em potencial para conquistar seus votos. Esse
tido de abordagem estava por trás da razão da espantosa subida do senador Ted
Cruz na campanha republicana para a indicação do candidato presidencial. Não é
para menos, desde que a Analytica estava trabalhando para Ted Cruz de todas as
maneiras possíveis. Aliás, ele era apoiado pelo
mesmo bilionário... Robert Mercer.
A revista suíça Das Magazin publicou uma investigação detalhada
sobre como os manejadores de big data afetaram tanto a votação do Brexit quanto
a Eleição Presidencial (norte)Americana.
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